Assis Chateaubriand
Tudo está, para qualquer a vida nefasta, no hiato entre a experiência e a figuração se é que ainda podemos, nas vésperas da terceira década do século 21, separar vida e de sermos seres-humanos de verdade.
Nesta semana, indignado e triste fiquei. Mas, sozinho, não conseguimos nada, afinal, somos uma sociedade – uma estrutura dentro de uma estrutura. Vivemos nela e fazemos parte de conluio chamado mundo.
A violência que a imprensa mostrou por homens que se ‘alegravam’ às custas da dor dos cães, treinando-os para briga, e, consequentemente morte, fez-me ver-me como um ser-humano descalibrado.
Vivemos numa sociedade do ‘faz de conta’ – somos pó, num marasmo universal que não temos a sapiência de entender que, na verdade, somos um grão de nada num universo infinito.
Porém, canalhas de espíritos vultuosos para a maldade conseguem fazer deste mundo, um mundo ainda pior. Ao jogarem pobres cães para que se matassem, nada mais mostra que o ser-humano é um inútil locupletado pelo instinto de sua insignificância.
O homem progrediu tanto nas ciências, no conhecimento, entretanto continua sendo um ser ordinário, cafajeste de sua própria existência ao usar cães para suas diversões e apostas; seres dignos de pena, mas que de tamanha atrocidade se mostram monstros transvertidos de seres-humanos.
O homem evolui de tal maneira, que, ao mesmo passo regride em sua personalidade espiritual e alavanca sua mediocridade inaudita.
Somos um mistério de duas pistas —na ida, na mão do criador, inventar o caminho entre a dor e o fingimento e na vida vivida vemos seres infelizes que se satisfazem com a dor, desde que ela, não seja a sua.
Sem esquecer, como explicou Fernando Pessoa, que na dor lida a gente lê não a dor fingida, aquela que nasceu da realidade, mas uma nova dor – dor que senti ao ver as imagens daqueles pobres caninos desfigurados e doídos em suas pequenas almas.
A arte de viver está corroída pela ação de homens sem escrúpulos, dor ou sentimentos. Pobres cães, jogados nas mãos insalubres de seres-inumanos - podres-fétidos.
Pobre existência. Não há palavras para descrever tal decrepitude e desumanidade.
Oremos!
Chatô é escritor