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    Artigo: Logo você morrerá... Volte para a casa enquanto há tempo

    1894 Jornal A Bigorna 22/03/2020 11:40:00


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    (Uma tarde com Luan)

    Dentre todas as perguntas feitas na história da humanidade, a mais simples e ao mesmo tempo a mais foda, sem medo de errar, é: QUEM SOMOS?

    O restante pode jogar no lixo, são apenas consequências desse questionamento que não levam a lugar nenhum, a não ser, retornar para dúvida inicial: quem sou eu e quem é você, leitor (a)? Mas não de uma maneira curricular, do tipo: sou Ismael Tavernaro Filho, tenho 32 anos, pai, escritor, gosto de tomar cerveja em copo americano, sou ansioso e assim por diante. Isso seria bastante superficial, no entanto, é o que geralmente respondemos. 

    Bom, antes de começarmos essa viagem “maluca” para dentro de nós, farei uma segunda indagação para fins didáticos:

    Qual é a sua lembrança mais antiga? Quantos anos você tinha nessa época?  Recorde... Com que idade aconteceu?  

    É unânime, só recordamos dos 3 ou 4 anos de idade para frente, antes disso NÃO temos lembrança de coisa alguma - como se NÃO tivéssemos existido. Entenda que eu estou validando um fenômeno que pode ser analisado e testado AGORA por você. Não precisa entrar no campo de terapias de regressão, vidas passadas etc. Podemos checar aqui mesmo - uma compreensão direta, experiencial e sem devaneios filosóficos.

    Visto que você NÃO é um alienígena e supondo que constatou o que todo ser humano constata em relação à pergunta, ou seja, lembrou-se dos episódios (incluindo sentimentos) de quando tinha 3 ou 4 anos, continuarei o texto a partir dessa perspectiva, beleza? E aqui o “negócio começa azedar”.

    Vamos lá!

    Nessa idade você (ou o que você acha que é) já existia, é óbvio. Aquela criaturinha interagia com o ambiente: sorria, comia, chorava, fazia cocô, brincava com os pais, enfim, respondia aos estímulos externos. Contudo, tem um ponto fundamental que carece ser levado em consideração: não tínhamos o senso de existir. O corpo físico estava lá, andando e fazendo um monte de coisas, mas você propriamente dito, não estava presente - era como se fossemos uma maquininha falante sendo conduzida pelas necessidades biológicas. Em outras palavras, não havia autoconsciência, a consciência de nós mesmos como seres individuais e separados do mundo. Se naquele momento você conseguisse expressar algo sobre como enxergava a realidade, diria que não estava separado dela. Tanto é, que comumente escutamos crianças falarem na terceira pessoa do singular. Exemplo:

    “A Maria está com fome.” “Pedro fez dodói.” “Juliana quer água.”

    Não há separação entre um bebê e o mundo, é uma coisa única. Não existia em nós um sentimento de EU individual, por consequência, não existia o OUTRO. Éramos um com o todo, na verdade, somos um com o todo. É que a falta de compreensão a respeito da nossa natureza, de quem somos, fez com que aceitássemos tudo o que disseram sobre nós. Foi por sobrevivência. A criança não tem escolha, precisa confiar nas palavras de quem cuida dela:

    “Seu nome é João” “Você é um menino” “Eu sou sua mãe, ele é seu pai.”

    Como não confiar no que estão dizendo? Essas pessoas nos oferecem abrigo, nos alimentam, deram amor e proteção. Claro que confiamos neles! Quando aquela consciência ingênua e pura vai se fazendo consciente de si - assimilando o que disseram a seu respeito por meio da repetição, ela acaba aceitando:

    “Esse é o papai e você é o bebê, o bebê João”.                    

    De tanto ouvir as mesmas coisas todos os dias, acreditamos. Passamos (de modo automático) do estado de consciência universal para consciências individuais.

    Uma analogia rápida para simplificar:

    Imagine que a criança é um oceano e a sociedade (família, amigos, escola, religião etc.) implantou a ideia falsa, de que ela é apenas uma gota ou uma onda separada do mar - o que é mentira. Mas a onda acabou de chegar ao mundo, acabou de “abrir” os olhos e saber que existe - completamente inocente, coitada. Nós acreditamos no que falam.

    Veja! Pode haver mil ondas no mar, mil pessoas existindo, mas em última análise, o que existe é apenas o oceano, apenas a existência. Não estamos separados uns dos outros. Somos um com ela e não dois, e não 7 bilhões gotas. Mentiram para nós sem a intenção de mentir - por ignorância. O mais contraditório, é que depois que estamos “desligados” do oceano, da vida, da existência, de Deus ou do jeito que queira chamar, buscamos dentro das religiões um caminho para nos religar novamente. A própria palavra religião em latim, significa religare, religar.

    Então, quando a criança - por necessidade de sobreviver - se vincula de maneira efetiva ao que aprendeu com a sociedade, isto é, que somos indivíduos apartados do restante, ela acaba encontrando pela negação das coisas uma forma de provar essa individualidade. Resumindo, ela expressa que é um ser individual respondendo NÃO para tudo, negando tudo.

    A “mardita” fase do NÃO. É natural, faz parte do desenvolvimento:

    “João! Venha comer. Não vou, mãe.” “Vai tomar banho, Luana. Não quero”

    Estou me fazendo entender, leitor?

    Preste atenção, vamos recapitular: nós tínhamos uma consciência latente e quando me refiro ao termo consciência, quero dizer essa sensação primária que você tem de existir, do sentimento de ser. Porém, não tínhamos a consciência de estarmos conscientes. Que é o nosso caso hoje - adultos. Essa impressão tem início a partir dos 3 ou 4 anos, que é a idade onde começamos absorver as máscaras, as personalidades, a fortalecer a individualidade, que por sua vez, está intrinsicamente relacionada com a memória. Por isso não lembramos do que ocorreu antes. Estávamos inconscientes de nós mesmos. Não tínhamos muita diferença (no sentido de autoconsciência) das outras espécies de animais, a não ser em potencial. Por mais que uma criança chore pra caramba ou ria por motivo nenhum, não significa que ela está triste ou feliz, são reações condicionadas e instintivas.

    Apenas a título de exemplo:

    Repare que a felicidade e a tristeza são conceitos e suas interpretações variam ao infinito. Mudam de lugar para lugar, de pessoa para pessoa, de época para época e de cultura para cultura. Para compreender um conceito é necessário estar consciente de que aquilo é um conceito, certo? Logo, como não tínhamos consciência nem de nós mesmos, não éramos felizes e nem tristes, pois as palavras são conceituais.

    As crianças são apenas a manifestação da existência, do conjunto dos fenômenos. O máximo que fazem e que PARECE deliberações, é repetir o que fazemos. Todas as nossas respostas nessa idade não foram decididas, simplesmente aconteciam - reações condicionadas pelas circunstâncias que se apresentavam. Não tínhamos medo ou coragem, felicidade ou tristeza. Não tinha a concepção de bem e mal, não existiam virtudes e nem pecados. Não havia PROBLEMAS. Éramos maquinas - animais como qualquer outro, inconscientes.

    Pegue como referência uma Zebra, aliás, duas zebras: a mãe e o filhotinho. Pense nos dois bichos pastando, tranquilos e de repente, surge um leão. A fera pula no filhote sem piedade. A mãe instintivamente corre para ajudá-lo. Faz parte da natureza a autopreservação, a preservação da espécie e da prole. Não é que a mãe estava com dó do filhote ou com raiva do leão. Nada disso! Ela só agiu do único modo que poderia agir - uma máquina comandada pelos instintos, pela natureza. Tudo espontâneo e sem deliberação – iguais aos nossos movimentos até os 3 anos. Mesmo que a cena pareça trágica (a mãe vendo sua cria devorada por um leão), a Zebra não enxergará a situação como um PROBLEMA. Não interpreta os eventos do mundo como nós interpretamos. As coisas são como são e ponto.

    Garanto para você que depois de 15 minutos da carnificina, a Zebra mãe estará pastando de novo, como se nada tivesse acontecido. Não há problema ali. Quem interpreta o mundo fenomênico é o ser humano - o único animal autoconsciente e identificado com o corpo/mente. Nenhum outro faz essa besteira.

    Consegue enxergar a semelhança entre as outras espécies e os bebês humanos? Os dois não tem a mente desenvolvida ainda: não tem personalidade, não tem autoconsciência e o resultado, é o NÃO julgamento das coisas. Eles apenas fluem, sem interpretações. A mente é o GRANDE problema, o único problema do mundo. Ao mesmo tempo em que ela é a responsável por sermos o ápice da cadeia alimentar, é também a causadora de todos os problemas existentes. 

    Imagine uma pessoa vendo seu filho morrer devorado. Só de pensar na situação me dá pavor. Carregaríamos a lembrança pelo resto da vida. Seria uma dor imensurável. Ninguém volta almoçar em 15 minutos depois ter visto o filho sendo mastigado por um leão. Mas um bebê faria. E faria sem “nojinho”. Você pode brigar e gritar com uma criança, talvez, por susto ela chore um pouco, mas após alguns instantes, nem lembrará, estará sorrindo para você.

    Nos Identificamos de tal forma como sendo GOTAS/ONDAS, ou seja, como sendo o corpo/mente, que temos medo de “morrer” e voltar para o oceano. Eu vejo diversas pessoas buscando, falando de evolução espiritual, no entanto, no fundo, ninguém quer perder a sua personalidade, a sua mente. Ninguém quer deixar de existir como Pedro, João ou Juliana. O mais engraçado e paradoxal dessa confusão, é que todos os mestres que reverenciamos por sua evolução e iluminação, afirmaram a perca total da identidade. Eles diziam que voltaram a ser crianças outra vez.

    Pode realmente ter esse lance de vida após a morte - o que não mudaria o fato de querermos continuar identificados com o corpo, mesmo que seja um corpo sutil, etéreo, como dizem por aí. Se existe a reencarnação, o samsara (termo em sânscrito que significa o fluxo incessante de renascimentos), só serve para indicar o nosso fracasso enquanto gotas rebeldes, que têm medo de se dissolverem na consciência universal. Não queremos morrer. Não queremos deixar de existir como gotas separadas, egoístas. Não queremos voltar para o mar, para a CASA.

    Texto de Ismael Tavernaro filho

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