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    Contos do Zé #14 - Noite de trabalho extra

    1079 Jornal A Bigorna 29/03/2020 20:40:00


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    Adamastor e Arnulfo são colegas de Polícia Científica. Apesar de ambos terem nomes antigos, Adamastor é realmente das antigas e já está com 68 anos, sendo que 40 deles na Polícia.

    Arnulfo é um rapaz que teve o azar de ter o seu nome utilizado para homenagear o Avô. Ele tem 25 anos e está na Polícia desde os 22.

    Apesar da grande diferença de idade, logo que cruzou com Adamastor, foi amizade à primeira vista. Isso porque gostava do jeitão raiz de Adamastor, e até mesmo de sua rabugentice.

    Fora isso, Arnulfo também apreciou a maneira honesta com que Adamastor trabalhava e agia, sempre procurando ajudar todos os que o cercavam (ainda que reclamasse muito por isso).

    Certa feita, quando estavam em meio a muitas calabresas, bacons, batatinhas fritas e maionese, pois os peritos das antigas não sabem o que vem a ser uma refeição saudável, receberam um chamado pelo rádio:

     

    - Alguém se matou na linha de trem, 1 Km adiante da Estação, sentido sul. Preciso que vocês passem por lá o mais rápido possível, para que os Policiais possam liberar a área logo.

     

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    30 minutos depois

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    - Eu não te falei Arnulfo, que isso ia acabar com a nossa noite? - Bradou Adamastor.

    - Não há de ser nada. Em dois palitos terminamos com isso e vamos jantar - Disse Arnulfo.

    - Jantar? Se nós conseguirmos tomar café lá no Português vai ser um milagre!

     

    E a voz da experiência não falhou. O cenário era de horror: O Suicida havia pulado em frente ao trem, quando este estava em velocidade máxima. Como era de noite, o Maquinista não teve nem a chance de tentar frear.

     

    - Olha só isso aqui, resmungou Adamastor. Vamos ter que esperar amanhecer para conseguir entender a cena toda.

    - Vamos, concordou Arnulfo.

    - Sabe o que me dá mais raiva? Porque pular na frente do trem? Olha a bagunça que esse cara fez! Espatifou tudo… Esses caras nunca ouviram falar em corda? Em pular da ponte? Em dar um tiro na cabeça? Agora nós vamos ter que tirar um monte de fotos aqui, e várias outras do trem, que nessa altura do campeonato já está lá em Vila Verde! Teremos que viajar pra lá, só porque o Beleza quis acabar com a própria vida, num ato egoístico. Fora que tudo isso traumatiza o Maquinista.

    - Acho que você está tendo uma visão unilateral das coisas, Adamastor. Quem se mata não pensa em nada. O cara abriu mão do bem mais precioso que uma pessoa tem, que é a própria vida. Você acha mesmo que ele pensou que nos faria tirar milhares de fotos com fome? Ou que traumatizaria o Maquinista? Esse cara deve ter família, e não pensou neles. Quem dirá pensar na gente…

    - Sabe Arnulfo, tem um cara, ele se chamava John Milton, ele era um poeta inglês. Ele certa vez disse: "A mente não deve ser modificada pelo tempo e pelo lugar. A mente é um lugar em si mesma e pode fazer do inferno um paraíso ou do paraíso um inferno.“ Ou seja, se o cara estava passando problemas aqui, ele vai morrer e continuar passando problemas. Porque a vida não acaba aqui, e as coisas só são problemas se forem encaradas com tal.

    - Você tem razão quanto ao café da manhã lá no Português. Vou buscar um lanche pra gente nalgum desses trailers que ficam abertos a noite toda, disse Arnulfo.

    - Você conhece a regra: Se não tiver hambúrguer, ovo, bacon, calabresa, presunto, mortadela, mussarela e muita maionese de alho, não vale a pena engordar.

    - Claro. E uma Coca?

    - Sempre.

    - Hoje eu pago.

    - Ok. Te devo essa.

     

    --- -- ---

    20 minutos depois

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    Enquanto comiam o X-Infarto do trailer do Sujinho, o melhor lanche da cidade, a despeito do nome peculiar e impróprio, Adamastor começou a puxar assunto:

     

    - Minha Avó, que Deus a tenha, dizia que nas noites de frio, iguais a essa, quando as estrelas são muito visíveis e o vento é forte a ponto de podermos ouvir seu uivo, é possível ouvir as vozes, gritos e lamentos dos espíritos que sofrem torturas no Inferno…

    - Cara, se você pretendia me assustar, conseguiu. Puta que pariu - reclamou Arnulfo.

    - Relaxa, essa não é a primeira vez que eu vejo um Policial Científico que lida com cadáveres a vida toda, ter medinho de espíritos, hahahahahahaha.

    - Adamastor, não é correto o que estamos fazendo. Nós estamos comendo e rindo sobre o cadáver de uma pessoa que foi importante pra alguém!

    - Não tenho culpa de ele ter pulado na frente de um trem antes que eu pudesse jantar, redarguiu Adamastor.

    - Mas não é correto, insistiu Arnulfo.

    - O que não é correto é esse patife estragar a nossa noite! Se fosse com uma arma ou corda, eram só duas ou três fotos e tchau! Agora estamos aqui passando frio, sono e fome por causa dele! E pra piorar esqueci meu isqueiro no Escritório!

    - Cara, você não pode estar com fome depois de comer um lanche desse tamanho!

    - Você decide agora o tamanho da minha fome? - Resmungou Adamastor.

    - A noite vai ser longa!

    - Vai. Por causa desse fracote aí!

    - Não fala assim, criticou Arnulfo.

    - Falo como quiser! Sou mais velho de Polícia! Eu já tirava foto de gente morta muito antes de você nascer! Então eu falo como quiser!

    - Ok.

    - Ok mesmo! E quer saber de uma coisa? Fique aí você com o Cadáver, porque eu vou tirar um cochilo na viatura.

    - Obrigado por ser tão parceiro, ironizou Arnulfo.

    - Qual é! Estou te dando a oportunidade de ouvir os lamentos dos espíritos que sofrem torturas no Inferno - disse - rindo - Adamastor.

    - Vá te catar.

    - Me chame às 6 e aí tiramos as fotos e tudo o mais.

    - Ok.

    - Com sorte poderemos almoçar na casa da minha Mãe. Ela sempre faz macarronada aos domingos.

    - Agora sim eu vi vantagem, comemorou Arnulfo.

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