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    1684 Jornal A Bigorna 11/11/2019 10:40:00


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    Domingo, levantei mais cedo do que o normal. Acredito que foi pelo desconforto da ressaca da noite anterior. Abri a janela. No fio do poste um passarinho de barriga amarela cantava sereno. Sempre me questionei: como eles não morrem eletrocutados? Pergunta tola, pensei comigo. Bom, de qualquer jeito fiquei grato, pois, ainda estava zonzo e enxaquecoso. Dias assim gostamos de silêncio, quietude. No céu havia meia dúzia de nuvens pairando vagarosas. Coloquei a água do café para ferver e fui ler o jornal.

    Logo na primeira página — uma tragédia.

     

    “EMPRESÁRIO RENOMADO TENTA SE MATAR APÓS A SEPARAÇÃO CONJUGAL”

     

    Quando eu me deparo com notícias dessa magnitude, várias conjecturas assolam minha cabeça. Fico imaginando suposições que expliquem a desventura, porém, na maioria das vezes saio frustrado. Aquele anúncio foi o suficiente para eu deixar o periódico de lado e continuar preparando o desjejum.

    Sentei na antiga poltrona aveludada de cor marrom e acendi a bituca de cigarro que restou no cinzeiro. Enquanto fumava – aguardando o bule apitar, lembrei-me de um aforisma de Friedrich Nietzsche (filósofo alemão do século XIX) que dizia assim:

     

    “Algo pensa em mim”.

     

    Pode ser que estivesse certo. Mesmo eu não querendo pensar sobre a tentativa de suicídio do noticiário, os pensamentos vinham à tona. Bizarro! Comecei a analisar as possíveis justificativas que levam um homem de sucesso a cometer uma loucura. Inicialmente refleti acerca da carreira profissional do empresário. Sei lá, de repente não tinha prazer no que fazia e acabava descontando suas frustrações na parceira. Ninguém aguenta ser saco de pancada por muito tempo. Hora ou outra, explodimos!

     

    A maioria de nós enxerga o trabalho somente como uma fonte de dinheiro ou poder e NÃO de gozo, de vida. Isso explica bem o fato dos finais de semana e feriados serem tão “lindos” e desejados. Claro! Já que, encontramos nos churrascos, nas viagens, baladinhas ou em qualquer entretenimento, uma válvula de escape para suportar os dias de “labuta”. O único valor legítimo que deveríamos atribuir ao escolher uma atividade, deveria ser o prazer em realizá-la. Ou seja, ela como um fim em si e não um meio para outros objetivos.

     

    Aqueles devaneios me causaram certa ansiedade. Parecia que eu estava declarando meu próprio caso. São mecanismos inconscientes. Julgamos pessoas e atitudes, mas, no fundo – estamos em alguma medida, falando sobre nós mesmos. O barulho da fervura desviou minha atenção. “Sorte”, fui salvo pelo gongo! Ninguém quer se olhar no espelho.  Quando criamos coragem, preferimos mudar a imagem refletida ao invés do sujeito em frente dela!

     

    Enfim, passei a água no coador e abri um pacote de biscoito de chocolate que havia ganhado de brinde. Não sei você leitor (a), mas eu gosto de café forte e doce. Tomei um gole generoso e experimentei as “bolachinhas”. Hmmm… Nunca havia comido quitutes assim: tão deliciosos. Sublimes! Eram bem açucarados, todavia, não enjoavam. Mesmo após devorar o pacote inteiro, eu ainda queria mais. Fiquei triste por ter acabado. Dizem que o que é bom dura pouco, certo? Hoje eu creio nisso. São palavras sabias... Experimentei o “mel” e queria novamente. A sensação estava na boca, na memória. Nada podia apagar. Então, bebi o restante do café que sobrou no copo.

     

    É misterioso como filosofia pode surgir dos acontecimentos mais triviais. Enquanto não tinha experimentado os biscoitos, o café era agradável, familiar. Porém, no instante que as papilas gustativas sentiram a doçura do chocolate – houve o contraste. Ele se tornou amargo e enfadonho. O parâmetro de sabor chegou a outro nível, no polo extremo.

    De algum jeito aconteceu à assimilação do café e do biscoito de chocolate com o AMOR. Parecia haver uma relação profunda entre eles. A história do homem deprimido no jornal fazia todo sentido agora.

     

    Quando o amor acontece, reconhecemos o quanto estávamos envolvidos com as banalidades. O quanto tempo “perdemos” correndo atrás de coisas superficiais e mesquinhas. Um ser amando, é um ser preenchido – mesmo que temporariamente. Quem está a volta dele consegue enxergar. Transbordamos bem-aventurança, alegria, bom humor e isso às vezes causa inveja nas pessoas as quais se encontram na mediocridade. Geralmente são elas que falam: AMOR NÃO ENCHE BARRIGA.

    Claro que não! Sabemos. Não estou me referindo ao corpo físico. É muito além. Trata-se de encher o vazio existencial: que assola e cria angustia. Força-nos a perguntar qual é o sentido da vida? Quem somos? Para onde vamos? Questionamentos dessa ordem, só brotam para quem não está amando.

     

    Compreende, leitor (a)? O amor da plenitude. Como se não precisássemos de nada, nem das respostas existenciais. E sabe o por quê? Por que não há mais perguntas a serem respondidas. A cabeça para de funcionar deixando o coração com as rédeas. Estamos cheios. Ele se torna a comida, a religião, é doce e alimenta a alma. Ficamos tão habituados com o sabor do café, ou seja: da rotina, do cotidiano etc, que esquecemos a natureza “divina” do chocolate – que é o amor.

     

    Aquele empresário alcançou o ápice, o lugar mais alto da montanha. Ele contemplou a beleza que poderia ser a vida. Foi presenteado com os biscoitos, um brinde da natureza. Um agrado de Deus para entender a sua verdadeira essência, sua doçura. É como se fosse à porta de acesso ao nosso potencial máximo. Tocamos a nossa própria face – o divino latente. Um pequeno vislumbre do que realmente somos, mas, sem sabermos o caminho de volta. Hora ou outra o café acaba, o biscoito termina e a porta se fecha. Sobrando apenas a tristeza, o sabor na boca, a lembrança, o desejo de querer mais.

     

    Durante a história humana fomos ensinados a dividir o pintor da tela, o criador da criatura, e talvez por isso, a nossa “sede” de “religare “. O filósofo e místico indiano, Bhagwan Rajneesh (1931 – 1990), citou: Não estamos separados de DEUS, não existe artista e obra-prima… Não há dois. O que existe é a arte. Apenas um! Igual o dançarino e a dança. É impossível separá-los.

     

    Portanto, aventuro-me a dizer que é esse, um dos motivos para desventuras conjugais. Inventamos uma separação inexistente, onde: O amor se torna a promessa que nunca é cumprida.

     

    Por Ismael Taveiro

     

     

     

     

     

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