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    Mulheres também são violentas, mas de forma mais sutil que os homens

    644 Jornal A Bigorna 02/08/2022 01:00:00

    Conversando recentemente numa conferência internacional com duas colegas intelectuais e acadêmicas, uma francesa e uma americana e ambas de temperamento liberal —no sentido europeu do termo—, logo, sem o ranço ressentido das feministas, acompanhei os relatos delas sobre os modos de exercício de violência e de crueldade entre mulheres, filhas ou amigas das filhas, alunas, enfim.

    Esse tema, da violência e crueldade entre mulheres, é um dos temas proibidos desde que acabaram os "tempos democráticos", como diz o namorado de uma amiga minha.

    A ilustração de Ricardo Cammarota foi executada manualmente em técnica de tinta guache com pincel, figurativa e, em partes, abstrata, com contornos não precisos entre os limites das cores, traços grossos e tortuosos. Predominância das cores rosa, vermelho, verde água e preto.  A ilustração, no formato horizontal, é uma composição livre, sem uma narrativa aparente, de rostos sobrepostos com mãos, olhos, peitos e fios que sabem das bocas e cabelos transformando-se em figuras abstratas.

    Inteligentinhos dirão que se trata de sexismo, uma das palavras da moda para calar a inteligência não orgânica —isto é, uma forma de inteligência rara no pensamento público em que o intelectual não quer prestar serviço a causa nenhuma e busca unicamente tentar entender a realidade. Lutando para não perder aquilo que o filósofo Isaiah Berlin (1909-1997) chamava de "senso da realidade".

    O dano que esta forma de silêncio causa é que as próprias mulheres, principalmente as mais jovens, têm sido educadas na mentira política segundo a qual a violência é um traço exclusivo dos homens. Estes são machistas, estupradores, assediadores.

    Não, as mulheres são cruéis também entre elas, e principalmente, mas de forma diferente dos homens. São mais sutis, e isso torna a violência que promovem quase invisível.

    Imaginemos a seguinte situação hipotética, mas que acontece todo dia. Um grupo de cinco amigas que trabalham juntas na mesma empresa ou estudam juntas na mesma faculdade, por exemplo.

    Uma delas faz alguma coisa que as outras não aprovam ou da qual desconfiam. Pode ser uma relação sexual com um homem casado, pode ser uma promoção inesperada no trabalho, pode ser uma conversa desavisada com outra mulher que o grupo desgoste.

    Agora imagine que por anos as cinco amigas e colegas saem juntas, viajam com seus namorados, são madrinhas de casamento umas das outras. Tudo postado nas redes e acompanhado pelos seguidores.

    A partir do momento em que se dá o cancelamento interno da vítima no grupo, ela desaparece dos posts, fotos, stories. Enfim, some. As pessoas começam a perguntar à vítima cancelada o que está acontecendo, e isso implica um desgaste psicológico —por causa das tentativas de inventar desculpas para seu sumiço das redes das ex-amigas— e solidão. O acontecido se espalha e o estresse se instala. Isso contamina o trabalho ou os estudos.

    Imagine que, por anos tendo o hábito de almoçarem juntas depois da aula ou no meio do expediente, de repente as quatro restantes saem deixando a culpada sozinha. Pessoas à volta olham sentindo a energia da exclusão. Mais estresse psicológico.

    Na volta do feriadão, as quatro conversam alegremente sobre o programa feito juntas —praia, o sítio de uma delas, enfim—, deixando claro que a cancelada foi mais uma vez excluída da vida social do grupo. De repente, demonstram um breve interesse por ela, mimetizando o passado, antes do cancelamento, para duas horas depois voltarem a deixá-la na invisibilidade punitiva, entre aspas.

    É evidente que a violência e crueldade aqui são de caráter prioritariamente, poderíamos resumir, psicológico, não físico, explícito, como costuma ser entre homens. A violência implícita pode levar tempo para ser percebida, ou mesmo reconhecida como tal. A dúvida com relação à permanência, ou não, do antigo laço afetivo é parte da própria violência.

    Nesse sentido, apesar de as mulheres costumarem de fato ser muito menos violentas fisicamente, elas o são psicologicamente, principalmente umas com as outras.

    Quando esse traço de comportamento moral é negado por razões ideológicas, aprofundamos seus efeitos difusos e aparentemente inexistentes.

    Enfim, as feias odeiam as bonitas, as menos gostosas odeiam as mais gostosas e tendem —ao contrário do que dizem as feministas— a pôr em dúvida com frequência as capacidades intelectuais e profissionais das bonitas e gostosas.

    Quem sempre põe em dúvida a capacidade profissional da mulher bonita é a feia. O homem, ao contrário, presta mais atenção e acolhe com imenso prazer a inteligência de uma mulher bonita.(Da Folha de SP)

    *Por Luiz Felipe Pondé

     

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