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    NÃO EXISTE CAUSA OU EFEITO

    Artigo

    1078 Jornal A Bigorna 08/10/2019 09:00:00

    Absurdo, não é leitor? Como o escritor ousa mencionar tal blasfêmia? O próprio enunciado já é o efeito da causa dos seus pensamentos. De que maneira não existiriam?

    Verdade, na superfície é evidente que uma coisa decorra da outra. Uma causa gera um efeito, que por sua vez será a causa de outro efeito e assim sucessivamente. Toda ação produz uma reação. Está claríssimo. Eu sou a consequência biológica de um ato sexual, o meu filho hoje é o resultado do seguimento genealógico e amanhã talvez será o agente que resultará em um novo bebê. Ao continuar essa linha de raciocínio (usando qualquer tipo de exemplo) chegaremos à “triste” conclusão de que nada existe por si mesmo e tudo é apenas decorrência de um fato anterior, podendo esbarrar em dois conceitos: o religioso e o científico. Ou seja, retrocedendo cada um dos incidentes que consideramos preceder os fenômenos captados por nossos sentidos, alcançaríamos a Deus como explicação primeira das manifestações ou a teoria do Big Bang (a mais aceita até agora). Ambas não justificariam o meu enunciado, visto que o criacionismo é uma gênese baseada na fé e as teorias científicas são verdades parciais, além de serem distantes da compreensão do senso comum. Logo, mostrarei algo tangível, ordinário, palpável à maioria de nós.

    Vamos lá: Imagine que um amigo te convida para beber cerveja. Ele brigou com seu amor e precisava desabafar – o que é de praxe. Eu, como o “bom camarada” aceitei imediatamente. Era a semana da minha promoção na empresa, um belo motivo para se comemorar. Enchemos a cara e não paguei um tostão (fiquei deveras alegre). Depois partimos rumo à lanchonete da praça matriz. No caminho, torci o pé na guia da calçada, fraturando o talus e rompendo alguns ligamentos. Resumindo: fui conduzido ao hospital, engessei o tornozelo – passando um “carão” com as enfermeiras - e o pior: não me promoveram no trabalho.

    Estava colérico naquele dia. A primeira reação que tive foi achar um culpado – o autor da desgraça ocorrida. São raras as vezes que assumimos a responsabilidade. É compreensivo, pois os órgãos sensoriais do corpo se abrem para fora, deixando complicado a autoavaliação. Talvez por isso a facilidade ESPANTOSA de julgarmos a vida alheia. Enfim, comecei a investigar todo o cenário do infortúnio, o que me levou a um axioma muito sucinto: “AS COISAS SÃO COMO SÃO” - teias multidimensionais de inúmeros eventos que se inter-relacionam simultaneamente para lugar NENHUM.        

    Acompanhe comigo: não me promoveram porque enviei um atestado de quatro meses, justo no período em que a empresa necessitava. O acidente ocorreu devido à embriagues e esse foi fruto da minha escolha: a de ter aceitado o convite para o boteco. Saímos porque a namorada do meu amigo lhe deu um pé na bunda e ela o abandonou porque se apaixonou por Gabriel. Ele (o outro) veio para a região em que nós estávamos pela falta de serviço no sul do país. A crise econômica onde Pedro morava se agravou por causa de uma catástrofe ambiental, promovida pelo mau uso de agrotóxicos nos grandes latifúndios.

    Poderíamos tentar seguir infinitamente registrando as circunstâncias visíveis e evidentes. Porém não conseguiríamos, pelo simples fato de não sermos oniscientes e/ou onipresentes. Isso porque ainda não examinamos a premissa de que tudo só teve a possibilidade de se desenrolar (também) devido ao oxigênio que respiramos, à água, ao planeta Terra, ao Sol, ao pé de alface comprado na quitanda e etc. Parece absurdo levar em consideração os elementos citados acima, mas sem eles não existiria nenhuma pessoa para esses eventos acontecerem. Óbvio! Não tem uma causa específica que gerou a outra e nem um conjunto delas. O Universo é o que é! Uma rede de acontecimentos interligados que NÃO daria para afirmar o que levou ao que. Somos um bloco único, uma unidade orgânica em constante movimentação. Eu influencio tudo, tanto quanto tudo (automaticamente) me influencia, NÃO HAVENDO ESPAÇO PARA CAUSAS OU EFEITOS.

    *Ismael Tavernaro Filho é colunista do Jornal A Bigorna

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

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