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    O conhecimento matou a vida

    1413 Jornal A Bigorna 16/07/2019 13:40:00


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    Um título aparentemente contraditório, não é leitor (a)? Já que: erradicamos a varíola, criamos o foguete Sputnik, assinamos o protocolo de Kyoto, “descobrimos” a glândula pineal, inventamos o Tinder etc.

    Bom, ao examinarmos essa premissa de forma rápida e com os olhos buliçosos do senso comum, poderíamos concluir: Sim! O autor NÃO está em plena lucidez das suas faculdades intelectivas. Mas, peço-lhes calma. “Vamos por partes”, como diria Jack.

    Estou convencido de que toda a filosofia nasceu enraizada pelo medo, em especial, o da morte. Ou seja: o conhecimento de modo geral – mesmo que oculto – está diretamente ligado a transitoriedade das coisas. Perguntas do tipo: quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? Deus existe? São reflexos do temor. Vamos bater as botas um dia e isso nos comove. Sobre a palavra MORTE, eu não restrinjo somente ao aspecto do corpo físico, é ampla: os acontecimentos que “morreram” e não voltam, os entes que partiram, os sonhos não realizados, os beijos nunca dados. Ou poderíamos inverter a significância da expressão, em vez de dizer que temos medo da morte, diríamos que o medo é de não fazermos tudo o que queremos em vida. Enfim, a ideia de não existir mais e/ou novamente, nos faz correr atrás de segurança, pois a vida, em última análise, é incerta e perigosa. Nesse exato momento estou respirando, já, no próximo segundo… Quem me garante?

    O ser humano é o único animal – até onde eu sei – que tem a consciência da própria finitude e isso cria TENSÃO. Encorajo-me a dizer, que só existem dois imperativos categóricos no universo: os impostos e o óbito. São inevitáveis. A respeito do segundo, a morte: quanto maior o medo, maior é a busca pela segurança. Estamos desesperados por um manual de conduta que certifique verdades absolutas ou um salvador que ampare e guie nossa jornada. Observe ao redor… Mesmos os céticos e ateus correm atrás de salvação. A única diferença, é que eles tiraram Deus do seu trono e colocaram Charles Darwin (naturalista britânico do século XIX), Karl Marx (revolucionário socialista do século XIX), Stephen Hawking (físico e cosmólogo britânico, 1942 – 2018) ou qualquer pessoa com bons argumentos. Compreende? Tiramos da sala a imagem do santo católico para santificarmos a biologia, a política, a física etc. Trocamos um salvador pelo outro. “Criamos ídolos”, como diria Nietzsche (filósofo alemão do século XIX) e eu completo a frase: “ao invés de coragem”.

    Definitivamente: somos crianças amedrontadas que não sabem encarar a vida e a liberdade. Nas palavras de Gilles Deleuze – intelectual parisiense do século XX: “Arrancamos Deus e esquecemos de puxar o trono”. É um jogo infantil de dois grupos! Basta analisar. Nós, fedelhos atemorizados buscando saídas confortadoras diante do sepulcro, e os representantes religiosos, da ciência e/ou da filosofia, crianças ainda mais amedrontadas, entregando soluções fundamentadas na lógica ou no sobrenatural. E claro, garantindo seus empregos. Talvez, eles (as) sejam honestos de intenção, porém, cegos. A vida é misteriosa e contingente, por isso não vejo antagonismo entre os PhDs em química com os sacerdotes. Parece estruturas incompatíveis – razão e fé – mas, não são! Uma busca conhecimento do lado de fora, enquanto a outra, do lado de dentro: o autoconhecimento. Ambas – no íntimo – gritam pela verdade e por segurança, uma resposta digna que possam “matar” a morte.

    Nossos acúmulos são tentativas frustradas de compensar os riscos da existência – uma poupança recheada, um plano de saúde GOLD, um investimento previdenciário, diversas graduações ou meia dúzia de penitências. Nada ou ninguém pode assegurar de fato que você acordará vivo amanhã. São paliativos, muletas que causam a sensação de proteção e resguardo, entretanto, no fundo, não resolvem bulhufas. Repare! Construímos gaiolas sociais – poder, prestígio, status etc – para aliviar a angústia da insegurança e do vazio. É compreensivo. Você acha que a doença, o acidente ou o assassinato está longe, só na casa do vizinho. Grande mentira! Andamos no fio da navalha diariamente. Fiódor Dostoiévski (escritor Russo do século XIX) no livro “Os irmãos Karamazov” menciona (em outras palavras):

    “É preciso ter coragem para enfrentar o terror do vazio e ausência de certezas. Por isso trocamos o voo livre por gaiolas…”

    A espécie Homo sapiens é muito curiosa, todavia, o motivo que nos definiu como exímios “respondedores de tudo” foi o MEDO. Quando algo é familiar ao nosso entendimento, quando se torna desvendado e vulgar, ele perde o risco, a ameaça, a dúvida, o horror da vulnerabilidade. Por isso a fome do saber. A filosofia não deveria significar: amor pela sabedoria. Está equivocado! Temos que mudar para: fobia da morte. E aqui chegamos no clímax: “O CONHECIMENTO MATOU A VIDA”.

    Todas as informações guardadas se referem ao passado, são velhas, estão na memória, não corresponde a realidade como tal, por que a mesma só existe no presente. A vida é sempre agora, no entanto, enxergamos ela a partir de uma mente repleta de juízos, concepções e opiniões formadas. Assassinamos o mistério da existência e o que está “dentro” dela. Quer um exemplo? Imagine que você nunca tenha visto uma rosa? A cor viva, o perfume doce, os espinhos, as pétalas macias… Resumindo: aquela experiência – sujeito e objeto – capitada pelos seus órgãos sensoriais em consonância simultânea com todos os sentimentos gerados e as reações bioquímicas ficou gravada no seu “HD interno”. A partir do momento que você construiu uma gravura idealizada daquela “coisa”, simbolizada por convenção no termo de rosa, surge o conhecimento, o veneno. Então, na próxima vez que se deparar com uma outra “coisa” chamada de rosa, automaticamente assimilará com a imagem e toda a experiência do seu primeiro contato. Essa nova – teoricamente – rosa, se fará velha. Um momento único, um encontro que nunca havia acontecido antes, foi destruído pela recordação, pelo pretérito, pelo conhecimento.

    De repente você pode falar: “Que bela flor, cheira gostoso!”

    Nessa hora, você acessou seu baú de conceitos, isto é: além de atribuir valor à feiura e ao mau cheiro ainda comparou – inconsciente – a beleza de outra flor que já estava registrada em sua psique, com aquela do instante presente: matando o encontro. Você não enxergou verdadeiramente a flor perante os seus olhos, o que viu foi uma lembrança mofada através da flor viva que estava diante de você. Fazemos isso o tempo todo: com lugares, pessoas, situações etc. Os relacionamentos conjugais, no geral, acabam em tédio, na mesmice, na monotonia ao achar que já conhecemos a outra pessoa. O encanto some! O desconhecido que intriga e excita. Chega a ser tolice pensar que o outro (a) se tornou conhecido. Não sabemos nada sobre nós mesmos, como poderíamos conhecer outro? Absurdo! Até porque mudamos ininterruptamente a cada infinitésimo de segundo. De que maneira conheceríamos quem está ao nosso lado? As crianças são o testemunho de que o conhecimento é a barreira da bem-aventurança. Estão deslumbrados com o mundo porque não sabem patavinas sobre ele. São folhas em branco: essencialmente felizes. Tudo é sempre novo. Você pode arremessar uma bolinha no chão dez vezes que gargalharão as dez. Não há necessidade de acreditar em mim. Faça o teste! Eles (a) vivem na objetividade pura, no mistério. Se alegram por qualquer “futilidade”, mesmo na extrema pobreza. A infância tem brilho nos olhos, ainda não foram contaminados pela sociedade, pela moral, regras, tradições, princípios e ideologias.

     

    Dizem que as pessoas iluminadas se tornam crianças de novo – no sentido de inocentes – por enxergarem as coisas como são, sem a poeira do conhecimento que ofusca o nosso cerne. Sócrates (filósofo grego, 470 a.C – 399 a.C) foi considerado o homem mais sábio de Atenas por assumir a própria ignorância. E para concluir, leitor (a): se você acha que entendeu esse texto, significa que não entendeu absolutamente nada!

    *Ismael Tavernaro Filho é o novo colunista do Jornal A Bigorna

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