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    1096 Jornal A Bigorna 15/04/2022 19:00:00

    Palanque do Zé

    Ignazio Cassis é o atual Presidente da Suíça. Seu mandato, assim como o de seus antecessores e sucessores, é de apenas um ano.

    Nesse exato momento, você deve estar se perguntando: Como é que o sujeito se tornou Presidente de um dois países mais importantes do mundo, e eu nunca tinha ouvido falar nele?

    Pois é. Na verdade, você provavelmente nunca ouviu falar sobre nenhum político suíço, e isso explica – acredite – muita coisa sobre aquele belo País, que se localiza na Europa Central, fazendo fronteira com a Alemanha a norte, com a França a oeste, com Itália a sul e com a Áustria e o principado de Liechtenstein a leste.

    A Suíça não tem saída para o mar e conta com um território de 41.285 km², onde vivem aproximadamente 8,5 milhões de pessoas. Sua capital de fato é Berna, mas não há uma legislação instituindo-a como tal. Outras cidades importantes são Zurique e Genebra. É um dos países mais ricos do mundo, e alcançou notoriedade por ser um paraíso fiscal, produzir bons chocolates e excelentes relógios.

    Não é de hoje que os suíços ignoram o governo central. Na verdade, o fazem desde o início dos tempos.

    Quando a confederação suíça foi criada, a busca pelo poder não era o objetivo. Mesmo durante o século XIV e adiante, quando a Europa sempre esteve envolta em guerras, notadamente a Guerra dos Trinta Anos, a Primeira e Segunda Guerras, a Suíça vivia em paz.

    Não que os suíços não tivessem seus problemas, mas ao invés de fazerem guerras para subjugar os que pensavam de forma diferente, eles optaram por um acordo militar para proteger a famosa neutralidade suíça e, por consequência, garantir a paz na região.

    O Império Romano havia concedido aos cantões (espécie de estados) a “imediatidade imperial”. Isso significava que eram livres  do domínio do Império, mas faziam parte dele, mais ou menos como ocorre nos dias de hoje, com a Comunidade Britânica de Nações, que é uma organização intergovernamental composta por 53 países membros, mas que são independentes entre si.

    Isso impediu que as realezas europeias cobrassem impostos dos suíços, que viviam mais prosperamente em razão disso. Menos Estado, menos impostos. Menos impostos, mais dinheiro no bolso do cidadão.

    Houve momentos em que os cantões católicos e protestantes até entraram em conflito, mas nada muito significativo. É que nenhum deles queria ser governado centralmente, e simplesmente se recusavam a cooperar entre si, a não ser para manter a política externa de neutralidade.

    Entretanto, no ano de 1798, o Exército de Napoleão Bonaparte invadiu a Suíça e estabeleceu a República Helvética, criando um Estado centralizado assim como era a França revolucionária.

    Só que os ideais progressistas franceses, nunca vingaram na conservadora Suíça e as mudanças impostas foram revogadas 5 anos depois, porque a sociedade exigia que todas as decisões fossem tomadas em nível cantonal e não em nível federal.

    Com o fim da República Helvética em 1803, ainda havia aqueles que achavam necessária a existência de um Governo Federal, de modo que os cantões católicos iniciaram uma guerra civil, o que resolveu a questão.

    Referido conflito ficou conhecido como “Guerra de Sonderbund”, algo como “aliança separada”, em alemão, e teve início em novembro de 1847, durando apenas 26 dias.

    Por ocasião da Guerra, o Exército Federal perdeu 78 homens e teve outros 260 feridos, mas sagrou-se vencedor e a Suíça se tornou, em 1848, o Estado que é até hoje.

    Desde então, o Poder Executivo Federal da Suíça é comandado por um órgão chamado Conselho Federal, que é composto por 7 membros. Cada um deles responde por um dos sete ministérios existentes e são nomeados pelas duas Câmaras da Assembleia Federal.

    Tanto a presidência quanto a vice-presidência do Conselho Federal sofrem um rodízio anual, mas o mandato dos seus membros tem duração de quatro anos. Esse sistema foi criado para evitar que o poder se concentrasse em apenas um único indivíduo.

    Como há um costume de repartir os 7 assentos do Conselho Federal entre os maiores partidos políticos existentes, a maioria de suas decisões é tomada consensualmente.

    Não que isso signifique muita coisa, pois a maior parte do poder político está nas mãos dos cantões, que legislam sobre temas como educação, saúde, assistencialismo e impostos, por exemplo.

    Noutras palavras, o bairrismo funciona na Suíça. Muito pelo sistema de democracia direta, onde referendos para possibilitar que a própria população escolha o que deseja, acontecem cerca de 10 vezes ao ano.

    E é por isso que, mesmo nos nossos dias, onde todos parecem sedentos por governos centrais fortes, a Suíça segue firme luta contra tudo aquilo que ameaça a liberdade individual.

     

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