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    Somos uma nação de gente estúpida

    1214 Jornal A Bigorna 18/10/2021 21:00:00

    Uma pesquisa telefônica do Centro Integrado de Pesquisa e Comunicação (Cipec), feita na semana passada, perguntou aos entrevistados quem era o mais honesto: se Lula, Jair Bolsonaro ou Sergio Moro (foto). Quase 50% dos entrevistados (49,4%) responderam que era Lula; 26,4% disseram que era Jair Bolsonaro; 24,2% afirmaram que era Sergio Moro. Uma pesquisa divulgada dias antes pela Qaest chegou ao mesmo ranqueamento, ao indagar quem era o melhor candidato para combater a corrupção. Entre os três possíveis candidatos para 2022, o petista é apontado como o mais adequado por 28% dos entrevistados e Jair Bolsonaro por 24%. Sergio Moro vem em último lugar, com 14%.

    Analistas de pesquisas são obrigados a tentar encontrar alguma lógica em respostas ilógicas. No caso da pesquisa do Cipec, a explicação foi que o resultado espelha a intenção de voto em Lula e Jair Bolsonaro nos cenários de primeiro turno e que os 24,2% de Moro “refletem, em certa medida, o espaço mínimo no cenário atual para uma candidatura nem Lula nem Bolsonaro”. Também é possível pensar que duas mentiras sobre Sergio Moro colaram: a de que ele foi parcial ao condenar Lula, o injustiçado que encontrou a redenção no Supremo Tribunal Federal, e a de que “traiu” Jair Bolsonaro, ao sair do governo por causa da politização da Polícia Federal. Afinal de contas, as máquinas petista e bolsonarista de propaganda são poderosas e sem freios.

    Não vou, porém, tentar achar lógica em respostas ilógicas. Como tenho o estranho hábito de dizer o que penso, apresento o meu resumo da ópera-bufa: boa parte dos brasileiros é simplesmente otária. Seja por ignorância, miséria material, crenças sebastianistas ou qualquer outra explicação sociológica, o fato é este — somos uma nação de gente estúpida, que cai em qualquer conversa de qualquer malandro.

    Só a estupidez explica que tamanha quantidade de gente possa achar que Lula e Jair Bolsonaro são mais honestos do que Sergio Moro. A organização comandada pelo primeiro saqueou a Petrobras e adjacências, em bilhões de reais, depois de protagonizar a vergonha do mensalão, no qual dinheiro público era usado pelo governo do PT, essa coisa linda, para comprar votos no parlamento. A família do segundo foi financiada por rachadinhas em gabinetes legislativos e, agora, dedica-se a explorar outras possibilidades rastaqueras. Quanto a Sergio Moro, até onde se sabe, o seu patrimônio é compatível com os salários que recebeu como juiz e ministro. Hoje, muito possivelmente, ele tem rendimentos maiores, como sócio-diretor de uma empresa de compliance, baseada nos Estados Unidos. Compliance: ou seja, o seu papel é ajudar a colocar empresas privadas nos trilhos, para que não cometam más práticas e possam ser acusadas de desonestas. Continua a trabalhar, portanto, em prol da transparência, assim como fez quando era magistrado e integrante do governo. Ninguém precisa ser apoiador de Sergio Moro para constatar o fato.

    Os brasileiros achamos que somos muito espertos, mas, na verdade, somos terrivelmente idiotas — idiotia atávica e cultivada com meticulosidade por governos, escolas, artistas, intelectuais, igrejas, emissoras e jornais, e é por esse motivo que estamos entregues a essa malta política. De vez em quando, somos assaltados pela lucidez, mas ela não demora a sumir no nosso nevoeiro mental. O que gostamos mesmo é de chorar na televisão, e certamente a resiliência na revolta e nas cobranças por justiça (a verdadeira, não a da jurisprudência de ocasião) não está entre as nossas qualidades, se é que temos alguma. É falso que abolimos o escândalo, como anda sendo dito, diante da nossa passividade. Nunca nos indignamos realmente com nada. Estúpidos.(Por Mário Sabino/Da Cruzoé)

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