• Jornalista avareense tem artigo publicado pelo jornal Folha de SPsobre a vida de Antônio Genez Parize, o centenário mais famoso de Avaré

    357 Jornal A Bigorna 01/09/2025 14:00:00

    Flávio Mantovani*

     

    Quando completou 100 anos em 2018, o aposentado Antônio Genez Parize tinha apenas uma preocupação na cabeça. “Será que o DETRAN vai deixar eu renovar minha carta?”

    A apreensão revela um pouco da personalidade do centenário mais famoso e carismático de Avaré, que morreu em 19 de julho, a 15 dias de completar 107 anos.

    Espécie de patrimônio vivo da cidade, Parize era conhecido pela vitalidade e pelo bom humor. Dirigia, frequentava academia e pescava toda semana, disposição que lhe rendeu destaque na imprensa regional.

    Nascido em 3 de agosto de 1918 na zona rural de Tietê, mudou-se com a família para Avaré na década de 30.

    Ganhou a vida como alfaiate. Uma propaganda antiga mostra um pouco de sua irreverência: na peça, a tesoura aparece maior que o alfaiate, referência bem-humorada à sua baixa estatura.

    Católico atuante, foi integrante do coral da igreja, onde exercitava o canto, mais uma de suas paixões.

    O jovem Parize já cantava na missa nos anos 40, mas ganhou um motivo a mais para não faltar aos ensaios: a organista Diva Cortez.

    O matrimônio foi oficializado em 6 de julho de 1947. Da união, nasceram os filhos Marco Antônio e Maria Diva.

    Antônio Genez Parize teve uma vida cheia de curiosidades. Foi coroinha no front na Revolução de 1932, quando testemunhou combates entre paulistas e as tropas de Getúlio na região de Fartura, também no interior de SP.

    Na década de 50, meteu-se em causas sociais. Atuou no Círculo Operário e foi fundador de um sindicato de trabalhadores rurais, ocasião em que recebeu a alcunha de comunista. “Comunista, um católico fervoroso como eu? Imagine só”, relembrava, aos risos.

    Parize também foi juiz de paz durante quase cinco décadas, tendo formalizado a união civil de milhares de pessoas.

    Costumava dizer que a vida era um manso lago azul. “Horas alegres cantando, horas tristes chorando”.

    Ele chorou, de fato, em 2005, quando a esposa Diva faleceu após quase 60 anos de união. O aposentado longevo, aliás, costumava refletir sobre o outro lado de se viver muito. “Todo mundo da minha época já se foi”, dizia, em seus raros lamentos.

    Manteve a rotina até quando pôde: ginástica, pescaria, volante. Lia jornais, rezava o terço diariamente e cuidava da hortinha no quintal.

    Mas a velhice cobra seu preço. Foi obrigado a abandonar a direção definitivamente em 2023, após um problema na vista.

    As idas à academia foram diminuindo e as pescarias cessaram devido às limitações físicas. Só não deixou de ir à missa, com o auxílio da bengala.

    Embora não padecesse de nenhuma doença, o aposentado teve uma piora no quadro. Chegou a ser internado, mas morreu na manhã de 19 de julho.

    Foi enterrado em Avaré. Além dos filhos Marco Antônio e Maria Diva, Antônio Genez Parize deixa 6 netos e 11 bisnetos.

    Deixa ainda uma importante lição: é possível levar vida na esportiva e com leveza, apesar dos espinhos que a vida teima em colocar ao longo do caminho.

     

    *Jornalista, autor da biografia Antônio Genez Parize: Vida e Obra de Um Centenário

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