
Por Assis Chateaubriand - Não tenho respostas para todas as questões, disse isso a um amigo de longa data quando nos encontramos num domingo pela manhã, quando me questionou sobre algumas coisas. Depois deixamos de não saber nada e começamos a bater um longo papo.
Foi um encontro agradável, porque senti que ao nos vermos, nos abraçarmos, sorrirmos de alegria, não é a mesma coisa que mandar um ‘like’ – uma amizade virtual, inócua e gelada.
Não sei quanto tempo ficamos sentados no banco da Praça relembrando nossa infância, as alegrias e principalmente que tínhamos contato uns com os outros de verdade, não como está se tornando nossa sociedade, um aglomerado de antropófobos (pessoas que tem fobia a seres humanos), já que as tais redes sociais, embora muitos não notem estão fazendo isso, infelizmente.
Hoje festejamos a inveja e a intolerância social, onde é mais fácil bloquear uma pessoa, do que falar com educação e polidez – cara a cara, as pessoas autocolocam ‘máscaras sociais’.
Quando estou no emprego, tenho uma máscara; quando estou em casa outra; quando estou numa roda de conversa tento ser agradável e, assim por diante. O mal do ser-humano atual – Ser em seu tempo – é que ele acha que pode ser tudo, bastando que ele tenha bens materiais, dinheiro, um bom emprego, pois, hoje, quem vive com o pouco que tem é uma maioria desprezada e sem direitos; têm de sobreviver e não conseguem viver.
Enquanto falávamos confessei a meu amigo minha preocupação com o quanto vem se alastrando o consumo de drogas na sociedade. Quem usa, indiretamente, e, muitas vezes sem pensar, não sabe que está financiando a violência que toma conta a cada dia mais e mais da sociedade. Ele me respondeu que não estaremos aqui quando as coisas piorarem; enfim, senti uma tristeza profunda, pois muitas outras pessoas continuarão aqui e sofrerão consequências insanáveis e cruéis.
Somos ‘coisas’ na sociedade. Não somos àquilo que somos ‘por dentro’, mas valemos pelo que temos; uma premissa indelével e inexorável.
Se soubéssemos que nossa ‘passagem’ por aqui é tão curta, não faríamos tantas barbaridades, pois ao final das contas quem tem muito ou pouco, o caminho é o mesmo, o fim da vida chega para todos nós, e iremos – todos - para o mesmo lugar.
Se soubéssemos que o amor é a fonte mais perfeita para termos uma vida de paz maior, com certeza, seríamos outra sociedade, menos egoísta e mais feliz.
Continuamos conversando e relembrando de nossas vidas, das novidades, do que passamos do que queremos ou queríamos, e, sobretudo, não me senti velho, pelo contrário, constatei o quanto precisamos evoluir, mas senti um prazer imensurável de saber como estava meu amigo, já, que, hoje, ninguém se preocupa com ninguém.
Rimos demais e cheguei à conclusão que a amizade e o afeto humano são demasiadamente salutares. Saí renovado depois de algum tempo, e senti que o melhor de nossa vida é quando você encontra uma pessoa e a deixa melhor do que quando a encontrou.
Chatô é escritor.