
Nos últimos três anos, testemunhamos uma transformação silenciosa e avassaladora na Internet, por conta das mais variadas formas de Inteligências Artificiais (IA). No início, elas se mostraram bastante competentes para elaborar textos e planilhas, por exemplo. Depois, começaram a realizar tarefas enfadonhas com maestria, e agora estão sendo usadas de maneira bastante eficiente para a produção de materiais audiovisuais.
Isso quer dizer que a forma como consumimos e percebemos conteúdo audiovisual na internet vai mudar muito rápido. Não se trata de anos, mas sim de meses, no máximo. Você já deve ter percebido que vídeos gerados por IA cada vez mais realistas, estão invadindo as redes sociais, não é mesmo?
Ferramentas como o Veo 3, modelo de IA lançado pelo Google, possibilitam a criação de vídeos com efeitos sonoros, ruídos ambientes e diálogos totalmente artificialmente gerados, mas convincentes ao extremo. Não se trata mais de simples animações ou memes amadores: Estamos diante de produções que reconstroem cenários históricos e cotidianos com tamanha fidelidade que até um olhar atento pode ser facilmente enganado.
Admito que essa tecnologia me fascina. A possibilidade de recriar a Idade Média em formato de vlog, ou de explorar eventos históricos com uma riqueza visual inédita, abre portas para experiências pedagógicas, artísticas e culturais enriquecedoras. Se utilizada de forma responsável, com transparência e adequada contextualização, a IA pode se tornar um recurso valioso para a educação e a cultura.
Duvido que você não tenha gostado de “ver” Moisés abrindo o mar ou de Noé “explicando” a razão de não ter colocado os dinossauros na Arca!
Reconheço que o potencial destrutivo dessa hiper-realidade não pode ser ignorado, pois estamos lidando com uma ferramenta capaz de simular discursos de líderes políticos, fabricar escândalos, provocar pânico social e até mesmo desmoralizar figuras públicas com uma verossimilhança quase impossível de ser desmentida a olho nu. O risco de manipulação é inegavelmente imenso.
Nesse contexto, surgem vozes clamando por “Regulamentação das Redes”, que não passa de um termo bonito e politicamente aceito para “censura”.
Como se sabe, a censura é um caminho perigoso e ineficaz, que mais cerceia liberdades do que resolve o problema. A resposta deve vir pelo fortalecimento do senso crítico, da alfabetização midiática e pela imposição de boas práticas no uso dessas tecnologias.
Além disso, há uma questão econômica e cultural relevante: Se a IA passar a gerar filmes, séries e novelas inteiramente autônomas, possibilidade que já desponta no horizonte, isso poderá desestimular a criação humana.
O paradoxo é evidente: Ao aprender a copiar detalhadamente o brilho nos olhos, a textura da pele, a luz filtrada por uma janela e etc, a IA se alimenta de conteúdo gerado por pessoas reais. Se os criadores forem desvalorizados ou abandonarem suas atividades, que qualidade de dados a IA terá no futuro? Caso ela comece a se "inspirar" em si mesma, criaremos um ciclo de empobrecimento criativo, o que não deve ser permitido, penso eu.
É evidente que a IA é uma ferramenta maravilhosa e que deve ser amplamente utilizada, em especial para realizar tarefas onde a nossa “alma” não precise estar presente. Mas ela jamais substituirá de maneira condizente, um bom articulista de jornal, as sacadas de um diretor de cinema ou o atendimento empático e humanizado de médicos ou advogados, por exemplo.
Em suma, a inteligência artificial é uma ferramenta formidável. Mas, como toda ferramenta poderosa, seu impacto dependerá fundamentalmente de quem a utiliza — e com que propósito. Estamos diante de uma encruzilhada ética e cultural. Cabe a nós, como sociedade, escolher se faremos da IA um instrumento de enriquecimento cultural ou uma máquina de manipulação e engano.
A única coisa que já tenho razoável certeza, é a de que a IA não vai roubar empregos, mas com certeza irá excluir aqueles que não souberem utilizá-la.
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