
Quanto mais os dias vão correndo, mesmo que existam pelo menos cinco candidatos no centro-direita dispostos a ocupar o posto de candidato à Presidência, maiores são os sinais de que, segundo caciques de partidos de oposição, ele terá o sobrenome Bolsonaro. Inelegível até 2030 e com sério risco de ir parar na cadeia pela tentativa do golpe do 8 de janeiro, o ex-presidente ainda tem um considerável capital. Mas à medida que vai perdendo as rédeas do processo, e a perspectiva de poder, os amigos que lhe “juram lealdade” vão se sentindo mais à vontade para circular, discursar e articular sobre 2026, sem Bolsonaro.
O próprio eleitorado vai se desgarrando lentamente de um candidato que, por mais que o admirem, até agora não tem condições de concorrer e pode estar preso. Os políticos e pesquisadores que têm se debruçado sobre essas condicionantes estão bastante cautelosos a respeito de qualquer previsão. Mas, aos poucos, vão consolidando a ideia de que Bolsonaro não entregará seu capital de mão beijada a ninguém.
Na semana passada, o evento de filiação do secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, ao PP de Ciro Nogueira, reuniu praticamente todos os caciques de partidos de postulantes ao Palácio do Planalto. Ao discursar Tarcísio afirmou: “Esse grupo estará unido, esse grupo vai ser forte, esse grupo tem projeto para o Brasil, esse grupo vai fazer a diferença, esse grupo sabe o caminho”. Logo em seguida, afirmou que o grupo político reunido ali “pensa Brasil 24 horas por dia”.
Foi ovacionado. Mas não pelos bolsonaristas que estavam indignados. O grupo do ex-presidente acha que ainda é muito cedo para avançar sobre o espólio. Pedindo para não serem identificados, observaram que o governador Tarcísio de Freitas tem adotado um comportamento cada vez mais dúbio. Jura aos quatro ventos que seu candidato é o ex-presidente, que pretende disputar a reeleição por São Paulo. Mas sempre que pode se movimentar em direção à candidatura presidencial. Um desses bolsonaristas chegou a comparar o governador a um “bebê reborn”, esses que estão na última moda. Parece de verdade, mas não é.
Esses bolsonaristas também afirmam que “o poder subiu à cabeça” do governador e que nem é capaz de defender e agradecer, àquele a quem deveria agradecer por sua carreira.
Tarcísio, contudo, sabe esperar. Não tem pressa e já percebeu que, como diz o sociólogo Antônio Lavareda, Bolsonaro está numa fase “jusante”. Quem conhece os termos usados por aqueles que lidam com os rios e os mares, quer dizer “vazante da maré”, “baixa mar”, isto é, em declínio. Caberá à Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), decidir se o ex-presidente segue nesse movimento de descida ou se consegue se reerguer.(Do Globo)
*Por Monica Gugliano