• Uma cena entristecedora_Chatô

    6812 Jornal A Bigorna 19/04/2020 23:00:00

    Por Assis Chateaubriand

    Quando me mostraram o vídeo de uns poucos avareenses defronte ao Tiro de Guerra pedindo intervenção militar e a volta do AI-5....(sic)...confesso que fiquei chocado com tamanha falta de conhecimento e senti uma tristeza profunda.

    Quem segurava aquele cartaz mostrando o tal AI-5 deve ter pesquisado profundamente o assunto, o que foi, e, principalmente o que ele fez com os brasileiros ao ser promulgado pelo general Costa e Silva, que, por sinal, mal conseguia uma administração no Brasil (economia) satisfatória. Era cercado de outros generais que queiram sua ‘cabeça’ e vivia isolado e inseguro no poder. Morreu após alguns ‘AVCs’ que lhe acometeram sem ter realizado nada de esplêndido em seu governo.

    O  Ato Institucional nº 5, AI-5, baixado em 13 de dezembro de 1968 segundo historiadores foi a expressão mais acabada da ditadura militar brasileira. Vigorou até dezembro de 1978 e produziu um elenco de ações arbitrárias de efeitos duradouros. Definiu o momento mais duro do regime, dando poder de exceção aos governantes para punir arbitrariamente os que fossem inimigos do regime ou como tal considerados.

    Costa e Silva criou um monstro chamado AI-5 que deu vida ao DOI-CODI (Órgão subordinado ao Exército, de inteligência e repressão do governo brasileiro durante o regime inaugurado com o golpe militar de 1964.). Órgão assassino e monstruoso!

    Um dos ex-presidentes – Ernesto Geisel - quando entrevistado pelo jornalista Elio Gaspari confessou que o DOI-CODI foi um monstro que a ditadura militar criou e perdeu o controle dela -matando inocentes em todos os cantos do Brasil.

    Confesso que fiquei chocado ao ver que ainda existam pessoas que, ao invés de realizarem um ato de apoio ao presidente, como tem o direito total disso, mostram um vértice totalmente diferente, já que apoiar Bolsonaro, não pode se misturar a ‘pedir’ um intervenção militar e citar o Ato Institucional nº 5, uma piada grotesca.

    Vivemos numa democracia, e é só ela que permitiu que tais senhores e senhoras de irem até o TG de Avaré se expressarem, já que se houvesse um AI-5, eles sequer saíram de suas casas para bradar palavras que assustam. Graças ao destino são poucas pessoas que ainda pensam em intervenção militar. Bolsonaro não é um presidente militar. Ele é um presidente eleito democraticamente, e não é um golpista. Tem seus defeitos, falhas e virtudes e isso faz com que a nossa democracia, embora capenga, seja um regime que todos podem se expressar, mas fazer apologia a um regime torturador é no mínimo constrangedor. Vivi esse tempo, e sei o que ele foi e fez, e me sinto inseguro ao ver dantesca cena, mesmo que seja uma ínfima parcela de pessoas, que, com certeza, não devem deter o conhecimento do período mais tenebroso que existiu em meu Brasil.

    Quando estaremos aptos a distinguir de forma clara o bem do mal?

    Nunca.

    De forma clara e absoluta, jamais.

    Morreremos errando.

    Nunca seremos perfeitos.

    Tentando ajudar, cometemos erros permanentes. Só existe uma maneira de ensinar os que não querem enxergar:  deixando agir, já que separar o que é preocupação genuína de tentativa de controle é algo tão complicado que parece exceder nosso sentido humano.

    Não imagine que eu esteja recomendando algo – jamais. Cada cidadão tem o político que merece, mas aplacar a crueldade assassina que foi o regime militar fere sim a consciência e o senso do ridículo.

    Às vezes, perco a esperança!

    Chatô é escritor

     

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