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    “Os humanos não estão preparados para proteger a natureza”, fiz filósofo alemão

    Entrevista

    732 Jornal A Bigorna 28/06/2020 15:50:00

    Em entrevista à DW, (Jornal Deutsche Welle) o filósofo Peter Sloterdijk afirma que a humanidade está aprendendo uma nova "gramática comportamental" para lidar com as mudanças climáticas e vê elementos dela na reação global ao coronavírus.

    A humanidade passa por um período de inocência perdida do ponto de vista ambiental e está aprendendo a mudar a "gramática do seu comportamento", avalia o filósofo alemão Peter Sloterdijk.

    "Ainda estamos desconfortáveis no nível da mudança lexical. Estamos agora aprendendo novos termos, um novo vocabulário, mas, aos poucos, também aprenderemos uma nova gramática", afirma.

    Mudança, para Sloterdijk, nada mais é do que o nome atual para o que a filosofia clássica chamava de devir, pois tudo o que existe não existe em formas estáveis e eternas, mas precisa se tornar o que é.

    Segundo o filósofo, um dos pensadores mais influentes da Alemanha, modernidade é, em essência, interferir nesse processo de tornar-se e empurrá-lo para uma direção que se encaixe melhor com os propósitos humanos.

    Em entrevista à DW, o autor de dezenas de livros que percorrem toda a gama da investigação filosófica dedica algumas reflexões a respeito da dificuldade dos seres humanos para mudar e o que isso tem a ver com a atual crise climática.

    DW: Então estamos todos em constante mudança?

    PS: Sim. A natureza como tal é uma entidade automutável. E tudo o que nos resta é, por assim dizer, continuar surfando na onda da mudança.

    Quando se olha para o futuro e se vê essa onda cada vez maior devido ao perigo das mudanças climáticas, há algumas grandes mudanças que temos que adotar, como espécie. E ainda assim, parece que, no momento, não somos capazes de executá-las. Por quê?

    Os seres humanos não estão preparados para proteger a natureza, em nenhum sentido. Porque em toda a nossa história como espécie, nossa convicção mais profunda sempre foi a de que somos nós que devemos ser protegidos pelos poderes da natureza. E não estamos realmente preparados para essa inversão. Assim como um bebê não pode carregar sua mãe, os seres humanos não estão preparados - ou não são capazes - de carregar a natureza. Eles precisam aprender a lidar com essa imensidão. Isso é um grande desafio, porque não existe mais a desculpa clássica de que somos muito pequenos para lidar com essas imensidades.

    Então estamos todos, em uma escala planetária, procurando por uma sensação de perdão? Queremos nos purificar do que fizemos?

    E haverá muitos pecados a serem perdoados. E quanto mais compreendermos isso, maior será a probabilidade de um dia desenvolvermos padrões de comportamento para lidar com a nova situação.

    Nossa resposta à pandemia foi imediata, foi rápida e unificada de uma forma quase inacreditável. Já a nossa resposta à crise climática parece travada ou estagnada. Há uma maneira de encarar essas duas formas de crise de forma semelhante?

    O que a resposta ao coronavírus tem provado é que a globalização através da mídia é um projeto quase concretizado. O mundo inteiro é mais ou menos sincronizado e coopera numa estufa de notícias contagiosas. A infecção por informação é tão forte quanto a infecção pelo vírus, na verdade ainda mais. E, assim, temos duas pandemias concomitantes: uma do medo e outra do contágio real.

    O senhor diz que a modernidade nos impediu de tornarmo-nos o que somos. Podemos mudar o que somos?

    Sim. Eu não acho que possamos mudar nosso DNA simplesmente mudando nossos pensamentos. Mas podemos mudar a gramática do nosso comportamento. E é isso o que o século 21 ensinará à comunidade global.

    O que isso significa?

     Tudo o que fazemos adere a uma estrutura - semelhante a uma linguagem. E a ação é algo governado por estruturas ocultas, como todas as frases que produzimos são regidas pela gramática e pelo léxico. E acho que ainda estamos desconfortáveis no nível da mudança lexical. Estamos agora aprendendo novos termos, um novo vocabulário, mas, aos poucos, também aprenderemos uma nova gramática.

    (Do Jornal Deutsche Welle – Alemanha)

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