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    Contos do Zé #8 - A ligação

    1660 Jornal A Bigorna 16/02/2020 14:40:00

    Palanque do Zé

    Tatiana era uma arquiteta de sucesso, que colhia os frutos de seu trabalho honesto. Mas assim como sempre foi dito pelo seu Pai, a vitória também tem consequências desagradáveis.

    Uma delas era tomar calote daqueles que contratavam seus serviços e não pagavam. A coisa estava tão sistêmica, que o seu Escritório tinha até contratado um Advogado para resolver esse tipo de assunto, principalmente.

    Dr. Rafael, na maioria dos casos, conseguia receber os valores devidos. Ainda que tivesse que penhorar um carro ou televisões de pouca serventia para Tatiane. Os fundos do Escritório já se pareciam muito com o setor de TV's da Casas Bahia, e isso era motivo de chacota entre os funcionários.

    Mas, às vezes, Dr. Rafael não conseguia resolver a questão e dizia para Tatiane:

     

    - Ganhamos, mas não levamos.

     

    Com o tempo, a moça começou a se revoltar com aquilo e decidiu fazer algo a respeito.

    E esse "algo a respeito" envolvia contratar um facilitador, que no caso era um cobrador de dívidas.

    Samuel, ou "O Cobrador", era o responsável por fazer as coisas acontecerem quando Dr. Rafael já havia esgotado as possibilidades pela via jurídica.

    Dessa vez, o alvo de Samuel era Jairo, um dono de postos de gasolina de Vila Verde, que era conhecido por não honrar seus compromissos financeiros.

    O Cobrador procurou Jairo três dias antes e disse, nos portões da casa do Caloteiro:

     

    - Você tem 72 horas para pagar os 11 mil que deve para Tatiane. Espero não ter que te ver novamente.

     

    Antes mesmo que Jairo pudesse argumentar, O Cobrador já tinha sumido pelas sombras.

    Como Jairo era um caloteiro por excelência, não se deixou intimidar. E foi justamente por isso que estava agora, com as mãos e pernas amarradas, encapuzado e com silver tape na boca, sendo levado para a Zona Rural da cidade no porta-malas da D-20 de Samuel.

    Quando chegaram no local, havia um descampado que provavelmente servia de pasto para vacas, mas como era de noite, elas deveriam estar no estábulo.

    Jairo estava horrorizado, afinal, brutalidade semelhante jamais tinha lhe acontecido. A máxima consequência que tinha enfrentado por ser caloteiro era um soco na boca, por não ter pago o conserto de seu Jeep ao Inácio, mecânico tradicional de Vila Verde. Doeu, mas não tanto.

    Mas o que realmente deixou Jairo desesperado foi constatar que uma vala havia sido aberta no meio daquele pasto. Isso o fez chorar convulsivamente. Além de urinar nas calças.

    Samuel retirou o capuz e a silver tape da boca de Jairo. Gostava de conversar com os alvos em seus momentos finais. Era tipo uma tara, sabe?

     

    - Não era mais fácil ter honrado seus compromissos? - indagou Samuel.

    - Eu tenho dinheiro, posso pagar!

    - Agora não queremos mais pagamento. Precisamos de você para servir de exemplo aos demais.

    - Eu dou 1 milhão para ela! Dou acesso para vocês, de uma conta que tenho na Suíça!

     

    Aquilo foi realmente inesperado, e Samuel não poderia decidir sozinho. Precisava arriscar e ligou para Tatiane de seu telefone criptografado:

     

    - Alô?

    - Fica tranquila que essa linha é segura.

    - Diga.

    - O Caloteiro te ofereceu acesso à uma conta na Suíça, que tem 1 milhão, para não ser morto.

    - Tentador.

    - Por isso liguei.

    - E como seria isso?

    - Ele me dá acesso à conta, e a gente transfere tudo para uma outra conta. Coisa simples. Dinheiro limpo e não rastreável.

    - Pode fazer.

    - Mas e depois eu deixo ele ir?

    - Não! Senão ele pode vir atrás da gente.

    - Ok.

     

    Samuel voltou até o local onde Jairo - agora um pouco mais calmo - estava e disse.

     

    - Trouxe boas novas. Minha Patroa aceitou sua oferta.

    - Graças a Deus!

    - Nós vamos fazer o seguinte. Vou soltar suas mãos e te devolver seu celular. Você vai liberar o acesso da conta para Dona Tatiane e aí eu vou para a casa tomar um banho. Ok?

    - Certo.

    - Se você tentar algo, já sabe.

    - Certo.

     

    Após Jairo ter completado os procedimentos necessários, Samuel lhe libertou das amarras que restavam em suas pernas e disse:

     

    - Pronto, agora nossa situação acabou.

     

    Fingiu que deixaria o Caloteiro sozinho na madrugada e dirigiu-se para a D-20.

    Tendo tomado certa distância da vítima, Samuel virou-se, sacou Catarina, seu revólver 38 de cano curto,p e efetuou três disparos no peito de Jairo, que caiu imediatamente.

    Valendo-se de suas últimas forças, enquanto era arrastado por Samuel para perto da vala que fora aberta mais cedo, reclamou:

     

    - Mas você prometeu que eu estaria livre!

    - Assim como você, não sou bom cumpridor de palavras. - Disse Samuel.

    - Seu desgraçado!

    - Além do mais, não poderia desperdiçar uma vala aberta. Gosto de matar. Ainda mais quando os alvos merecem.

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