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    7 de Setembro com ares de 6 de Janeiro

    1188 Jornal A Bigorna 07/09/2022 13:50:00

    E chegamos, assustados, ao 7 de Setembro. A maneira como o bolsonarismo constrói enredos que, mesmo canhestros, mobilizam a atenção de todo o país está no cerne da construção que fez de um “mau militar”, assim descrito por Ernesto Geisel, e deputado de atuação folclórica, fisiológica e apagada presidente da República.

    Bolsonaro está há meses convocando para atos que capturam a celebração do Bicentenário da Independência para sua campanha à reeleição e para sua pregação contra as urnas eletrônicas e o Judiciário — em resumo, contra a democracia.

    Nem percebemos que passamos a tratar como normal o fato de os desfiles oficiais dividirem espaço geográfico e convidados com uma micareta de apoiadores do presidente que reiteradamente têm investido contra as instituições em templos, nas redes sociais, em aplicativos de mensagens e atos em datas passadas.

    Num sinal inequívoco de corrosão de limites do que é aceitável nas balizas do Estado de Direito, passamos quase a pedir a Deus para que não haja conflito, quiçá armado, e a prever graus de exacerbação de um ou vários discursos que Bolsonaro possa proferir nos palanques híbridos onde subirá.

    O Judiciário está isolado na trincheira da tentativa de contenção do presidente, de seus mais radicais apoiadores e do financiamento desses atos que já minaram um grande pedaço do espaço da convivência democrática — uma vez que quem não se coaduna com essa pauta golpista é instado a ficar em casa no feriado para evitar conflitos.

    Nosso arcabouço legal, a Constituição incluída, não foi erguido com instrumentos rápidos, fortes e seguros para matar no nascedouro conspirações como a que Bolsonaro mais uma vez encabeça — ele que foi expelido do Exército depois de liderar um motim para pressionar por melhores salários.

    Ferramentas como os inquéritos das fake news e das milícias digitais, além de decisões acertadamente restritivas ao uso de armas e celulares no dia da eleição, tomadas pelo TSE, são os únicos recursos à disposição das instituições para enfrentar um plano urdido à luz do dia que, no limite, levará a que as Forças Armadas sejam arrastadas para contestar o resultado das eleições.

    Os militares já estão sendo levados de tal forma de cambulhada nessa orquestração que aceitaram participar desses atos no limite da institucionalidade numa data que deveria ser para todos os brasileiros, e não de facções políticas.

    O Brasil assiste entre a perplexidade e a apatia à construção de uma pantomima que pode, seja hoje, seja em 2 ou em 30 de outubro, nos levar a viver um levante inspirado no que apoiadores insuflados por Donald Trump promoveram em 6 de janeiro de 2021 nos Estados Unidos, com a invasão do Capitólio. Essa associação, aliás, tem estampado análises temerosas na imprensa internacional nos últimos dias.

    Bolsonaro está acuado, preso a suas próprias obsessões e assistindo ao fracasso, até aqui, dos meios de que lançou mão para chegar competitivo à eleição sem precisar apostar todas as fichas na contestação fraudulenta à lisura do processo eleitoral.

    Seus ataques às mulheres funcionaram como âncora a seu esperado crescimento nas pesquisas e mantiveram a rejeição colossal que ele conserva há meses, construída não só por sua natureza autocrática, mas sobretudo devida a suas ações na pandemia, à destruição ambiental, ao desmonte da educação e da cultura e a outros dados do seu legado governamental.

    Uma pessoa com a natureza dele e assim pressionada é difícil de domar. Tanto que os aspirantes a essa ingrata função têm falhado dia após dia. Assim chegamos ao segundo 7 de Setembro golpista em dois anos. De fato, nos acostumamos a condescender com o inaceitável e a repeti-lo como farsa.(Do Globo)

    *Por Vera MAgalhães

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