• Trump deu a Lula uma chance de ouro de recuperar apoios políticos e popularidade

    136 Jornal A Bigorna 11/07/2025 08:40:00

    Com sua megalomania, impulsividade e imprevisibilidade, Donald Trump deu a Lula tudo o que ele precisava para recuperar apoio político e popularidade: um inimigo externo e um discurso. Um discurso catalisador, resumido no slogan que o Planalto produziu, mas terceirizou para seus militantes e aliados massificarem nas redes sociais: “Lula quer taxar os super ricos, Bolsonaro taxa o Brasil”.

    É assim que Lula tenta sair das cordas, unindo a perigosa, mas eficaz, bandeira do “pobres contra ricos” com o sempre conveniente nacionalismo, que costuma quebrar o maior galho para governantes sob pressão. O venezuelano Hugo Chávez era craque nisso, mas é apenas um pequeno exemplo no meio da multidão que usava e usa esse recurso quando a política interna esquenta e as pesquisas trazem más notícias.

    Se Lula recorre à “soberania”, o bolsonarismo tenta, a duras penas, e sem bons resultados até agora, usar a “democracia”. A diferença, porém, é abissal. A agressão do império às instituições, à democracia e à economia – e, portanto, à soberania nacional– é real, palpável. Já a alegação de Trump de que há censura, ameaça à livre expressão e “caça às bruxas” no Brasil é tão mentirosa quanto a própria “carta” de Trump para anunciar tarifas de 50% a todos os produtos brasileiros.

    No texto, ele justificou o tarifaço com “esses déficits comerciais insustentáveis” que o Brasil causaria aos EUA, mas é o oposto! O Brasil teve um déficit de US$ 400 bilhões com os EUA em quinze anos, e oito dos dez produtos americanos exportados para o Brasil chegam aqui com... tarifa zero. Além de mentirosa, malcriada, grosseira e cheia de erros, a carta foi divulgada antes de chegar ao destinatário -- o presidente do Brasil. É algo impensável entre pessoas comuns, imagine-se entre chefes de Estado? O Itamaraty reagiu à altura: devolveu a carta.

    É isso que Jair Bolsonaro, o “deputado exilado” Eduardo Bolsonaro e a imensa militância do grupo não apenas defendem, como atiçam incessantemente no governo e no Congresso dos EUA? Taxação no comércio, sanções a ministros do Supremo, avacalhação da imagem do Brasil no exterior? Não combina muito com o lero-lero do “Brasil acima de tudo” que embalava multidões no pico de popularidade de Bolsonaro.

    O ataque de Trump não muda uma vírgula, um dia ou um voto no julgamento de Jair Bolsonaro no Supremo por tentativa de golpe de Estado, mas pode piorar um bocado a investigação do filho Eduardo por coação e obstrução do processo contra o pai. E o pior para o bolsonarismo é que divide, confunde e amedronta aliados. O melhor exemplo é o governador Tarcísio Gomes de Freitas, que foi, voltou e ficou no meio do caminho, tonto, tentando defender o indefensável e perdendo algo de relevante que ele havia conquistado: uma boa relação com ministros do STF.

    Por mais que o bolsonarismo seja uma seita, que as versões de Bolsonaro virem verdades absolutas (até contra vacinas!), é muito difícil até para convertidos assimilar que a Comissão de Relações Exteriores da Câmara tenha aprovado uma moção de louvor a Trump por produzir o maior e mais sério ataque já visto ao Brasil, que atinge agricultura, pecuária, Embraer, serviços... Logo, prejudica empregos, gera queda na Bolsa e alta do dólar, impacta na inflação e pode aumentar os juros. Moção de louvor ao inimigo da Pátria?

    O grande teste sobre os “pobres contra ricos” e agora, o fresquinho, “Brasil soberano” será a pesquisa que a Quaest começou a fazer nesta quinta-feira sobre Lula, governo, 2026. É difícil captar o efeito, porque o campo da pesquisa começa no dia seguinte ao míssil de Trump, mas não é impossível, porque só se fala nisso nas casas, bares, restaurantes, gabinetes e consultórios pelo Brasil afora. Em menos de 24 horas, já eram computados 240 milhões de menções sobre o ataque na internet.

    Trump mirou no governo Lula, no STF e nos Brics, mas errou o alvo e acertou Bolsonaro e pode se transformar no marco da reviravolta de Lula – e, além dele, Fernando Haddad – rumo a 2026. Lula, porém, tem de ajudar, principalmente não errando. A fórmula está no pós 8 de janeiro: assim como reuniu os poderes e a federação na defesa da democracia, Lula precisa, como sugere o professor Roberto Menezes, da UnB, unir Congresso, setores privados, entidades e brasileiros de qualquer raça, religião ou ideologia em torno do interesse nacional. Só Trump poderia dar essa chance a Lula. E deu.

    Opinião por Eliane Cantanhêde

    Comentarista da Rádio Eldorado, Rádio Jornal (PE) e da GloboNews

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