
Por Assis Chateaubriand – Num domingo saí para fazer uma caminhada. Confesso que ando pouco, mas naquele dia me sentia solitário demais, enfim, fui ver o centro de minha cidade.
Pela Praça da Igreja Nossa Senhora das Dores havia algumas pessoas. Umas apenas percorrendo para algum destino, outras passeando, assim como este escriba. Olhei a imensa Igreja, símbolo de nossa história e resolvi adentrar.
Nada haver com religião, mas queria sentir paz. A missa já havia acabado e a igreja vazia me fez sentar-me um pouco. Pensei na vida, na existência humana, acho que estou louco, mas fiquei por um tempo refletindo.
Ali relembrei de minha infância, de como era diferente a cidade que, hoje cresce assombrosamente. Fitei a imagem de Jesus carregando sua cruz. Todos nós temos nossa ‘cruz’. A vida é feita de momentos felizes e percalços que, às vezes, nos tiram a motivação de continuar.
Depois me lembrei de como estou vendo o ‘meu mundo’. Lembrei-me de várias coisas terríveis que acontecem em nossa sociedade. No mundo todo assistimos quase todos os dias às mazelas que o ser-humano passa. Nossa existência é tão frugal e rápida; temos uma passagem tão breve por este lugar chamado Terra, que senti uma tristeza. A insensibilidade do homem para com seu semelhante.
Dizem que hoje estamos muito avançados. Pergunto: em que? Se ainda existem pessoas morrendo de fome, excluídas de uma vida digna; outras sofrendo tanto, enquanto muitas outras desfrutam de coisas melhores.
Daí resolvi perguntar a Deus: Não somos todos iguais? Por que tanta diferença? Por que tanta violência? Por que tanto egoísmo? Tantos por quês, que acho que Deus deve ter se desiludido também.
A insensibilidade humana é a mais traiçoeira, covarde e pueril, já que questiono o que o homem ganha em prejudicar ou desejar o mal para o outro?
Assim fiquei mais um longo tempo ali; em seguida resolvi não mais querer questionar Deus. Pouco tempo após saí e percorri mais algumas ruas. Estavam semidesertas. Enquanto andava via as flores do Largo São João, a fonte luminosa e continuei a caminhar, saindo um pouco do centro e fiz um percurso por alguns bairros. Por fim, cansei e voltei. Retornei sem mais questionar nada, afinal, quem sou eu para questionar tanto num Universo tão grande em que sobrevivemos.
Ao chegar a casa sentei-me. Peguei um livro e comecei a folheá-lo. Vi a data em que havia comprado aquele exemplar. Datava de mais de 40 anos atrás.
Tantos anos, tanta coisa, que se não cheguei à conclusão alguma, mas que pelo menos me fez pensar um pouco sobre nossa existência.
Como seria bom se todos fôssemos iguais uns aos outros. Quando me dei por mim, vi que a vida é levada muito a sério, passamos tanto tempo – ou melhor – perdendo tempo com tantas frivolidades, que, muitas vezes, nos esquecemos daqueles que nos cercam e pior, esquecemo-nos de que um sorriso é mais valioso que o mero dinheiro, que a amizade é mais valiosa que intrigas, mas, que, infelizmente, deixamo-nos nos levar e esquecemo-nos de viver.
Chatô é escritor