• Ana Rosa, uma lenda passional

    6728 Jornal A Bigorna 24/08/2017 02:31:00

    Venerada popularmente como santa em Botucatu, onde teve fim trágico, a avareense Ana Rosa protagoniza uma história com tons lendários. O primeiro relato aparece, em 1922, no livro “Anna Rosa e Chicuta”, de João Correia das Neves.

    Vitimada no mais famoso crime passional cometido no século 19 na região, Ana Rosa tem uma igreja erguida em seu louvor e inspirou artistas e compositores como Carreirinho, autor de uma moda de viola gravada em 1957 pela dupla Tião Carreiro e Pardinho.

    Poucos sabem que essa bela mulher teria nascido no arraial do Rio Novo, em 1865. Outros pesquisadores apontaram que a mesma é natural de São José dos Campos, mas na placa de seu templo a atual Avaré é mantida como sua terra natal. Já o seu túmulo no Cemitério Portal das Cruzes, em Botucatu, é o mais visitado no Finados, quando admiradores cobrem-no de flores e lá fazem seus votos.

    Tal dado aguça a latente rivalidade entre Avaré e Botucatu que assim extrapola do campo político para o místico. Afinal a chamada mártir do Lavapés é oriunda de terras rio-novenses.

    Tema de melodramas de circos populares, a tragédia de Ana Rosa alimenta versões e variações. Quase foi rodada em filme na década de 1940, mereceu outro livro e virou recentemente uma elogiada peça teatral. Tudo porque junta realidade e lenda, amor e violência, ceticismo e religiosidade.

    Amor rasgado- A sina de Ana Rosa começa na sua união com o carreiro Francisco de Carvalho Bastos, apelidado de Chicuta, um tipo temperamental, ciumento e machista. Saturada com os maus tratos do marido ela foge a cavalo.

     “Ana Rosa era uma cabocla bonita. Moça faceira. Seu marido tinha um sítio em Avaré. Um dia, ela pirou. Veio para Botucatu. E assentou praça no regimento do amor rasgado. Era a mulher-dama mais falada e cotada no mulherio da fuzarca”.

    Assim foi descrita por Sebastião de Almeida Pinto em seu livro “No Velho Botucatu”, de 1956. O escritor, ao comentar que Ana Rosa pediu e recebeu abrigo na casa de Fortunata Jesuína de Melo, dona de um cabaré, anotou bem humorado que ela “batia longe suas colegas com nomes engraçados: Nhana Cabeça, Nica Paranista, Nhana Santantônio, Antoninha Veada, Carolina Perna Grossa, Sinhana Papo Roxo, Nhâ Tucá Guaiaca, Marrequinha, Maria Taquara, Dita Caçafoice e outras que tais”.

    De volta do trabalho Chicuta não encontra a mulher e, ensandecido, sai à caça dela. Quando a localiza, não consegue convencê-la a reatar. Então decreta-lhe a morte e para isso contrata José Antonio da Silva Costa, o Costinha, e Hermenegildo Vieira do Prado, o Minigirdo. O plano vinga porque Costinha se faz passar por bom homem e oferece cobertura para Ana Rosa deixar o marido. Mal sabia ela que caminhava para uma cilada mortal.

    Quando Ana Rosa atravessa o ribeirão Lavapés, na estrada para Pardinho, avista Chicuta e se dá conta da emboscada. Apela por misericórdia, mas os assassinos a esquartejam sem piedade. Morre aos 20 anos, em 21 de junho de 1885. Conta-se que na hora em que os pedaços do corpo da morena eram carregados por um carroceiro junto de policiais pelas ruas da cidade, o cheiro de flores perfumava o ambiente.

    Capturados, presos e condenados, os dois assassinos mereceram fins tristes: após cumprir a pena, Costinha é esmagado ao cortar uma árvore. Minigirdo contraiu varíola e morreu na cadeia.

    Por sua vez, Chicuta pereceu também numa tragédia. Seu carro de boi para no pasto e ele, aborrecido, bate nos animais. Ao se deitar no chão para verificar as rodas do veículo, os bois avançaram e ele teve a cabeça separada do corpo.  *GESIEL JÚNIOR, ESPECIAL PARA O FORA DE PAUTA

     

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