• Chantagem rasteira de Trump não passará

    85 Jornal A Bigorna 11/07/2025 08:10:00

    A chantagem rasteira de Donald Trump contra o Brasil não vai funcionar. Cogitar de que o Judiciário de uma nação soberana e democrática, que opera com independência, deixará de processar quem quer que seja para livrar o país de retaliações econômicas dos Estados Unidos não passa de devaneio autoritário.

    Se a manifestação foi pensada para ajudar Jair Bolsonaro (PL) no julgamento em que é acusado de tramar um golpe, ela, na melhor hipótese para o ex-presidente, terá efeito nulo. Se tentou fortalecer o deputado fugitivo Eduardo Bolsonaro (PL-SP) para a disputa de 2026, acabará tornando o seu caso na Justiça brasileira ainda mais complicado.

    Se seu intento foi impulsionar a direita brasileira, o resultado líquido tenderá a ser negativo. Vai ser difícil ficar do lado de quem patrocina uma agressão estrangeira à soberania e aos empregos brasileiros, pois tarifas adicionais de 50% sobre as exportações teriam efeitos nefastos sobre vários setores da economia nacional.

    Chegou a hora de lideranças como o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) escolherem de que lado estão. Ou bem Tarcísio defende os exportadores paulistas e a soberania brasileira ou continua posando de joguete de boné de um agressor estrangeiro e da família Bolsonaro, cujo patriotismo de fancaria se dissolve e se transforma em colaboracionismo diante da perspectiva da cadeia.

    Está repleta de mentiras e incoerências a carta em que Trump tenta justificar o ataque comercial. As trocas com o Brasil não contribuem para o déficit norte-americano. Pelo contrário, há anos o resultado da corrente é superavitário para os EUA. O presidente republicano diz defender a liberdade de expressão aqui, mas lá manda deportar quem emite opiniões consideradas erradas pela Casa Branca.

    O histórico de decisões anunciadas mas nunca efetivadas de Donald Trump faz duvidar da implementação das tais tarifas adicionais. Ele já mandou cartas ameaçadoras a outras nações marcando prazos para o início da vigência. A entrada em vigor de todas essas decisões causaria tumultos graves na própria economia dos EUA, pois se trata de um imposto sobre seus consumidores.

    O sangue frio, portanto, é o melhor caminho para lidar com o novo arreganho de Trump. Nesse quesito, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem se portado bem, o que ficou mais uma vez atestado na reação sóbria do Planalto ao anúncio do tarifaço.

    O governo brasileiro não deve abrir mão de seus poderes de retaliar, conferidos pelo Congresso Nacional ao Executivo em legislação recente. Mas deveria recorrer a esse expediente apenas em casos extremos, que ainda não se concretizaram.

    Insistir em demonstrar às contrapartes norte-americanas que não há nenhuma razão econômica para a invectiva contra o Brasil continua a ser a linha de ação mais indicada. No mínimo se ganha tempo para que as ciclotimias do populismo empurrem o presidente dos Estados Unidos para outros temas em suas redes sociais.

    O tempo trabalha a favor do Brasil e dos outros países acossados pelas bravatas das guerras comerciais de Donald Trump.(Da Folha de SP)

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