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    Conselho aprova tombamento de fazenda e estação ferroviária com marcas do nazismo no interior de SP

    2425 Jornal A Bigorna 20/03/2022 17:50:00

    Localizadas entre os municípios de Paranapanema (SP) e Campina do Monte Alegre (SP), Fazenda Cruzeiro do Sul e Estação Ferroviária Engenheiro Hemílio ficaram conhecidas após tijolos e documentos marcados com suásticas serem encontrados. Locais também promoviam exploração de trabalho infantil.

    A Fazenda Cruzeiro do Sul e a Estação Ferroviária Engenheiro Hemílio, localizadas entre os municípios de Paranapanema (SP) e Campina do Monte Alegre (SP), foram tombadas como Patrimônio Histórico e Cultural.

    Os locais ficaram conhecidos nacionalmente após tijolos e documentos marcados com suásticas, símbolo do nazismo, serem encontrados por um fazendeiro. Pesquisas também apontaram que a propriedade promovia a exploração de trabalho infantil, durante as décadas de 30 e 40.

    A decisão é de fevereiro, mas foi divulgada na sexta-feira (18) pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat), que considerou a fazenda e a estação como a "materialização de pensamentos segregacionistas e preconceituosos vividos pela sociedade brasileira".

    "O tombamento tem uma importância enorme dentro do cenário que estamos vivendo, com o crescimento do negacionismo sobre violações dos direitos humanos. Essa resolução vem justamente para reforçar a importância de conhecermos a história, por mais que sombria, e impedir que políticas de ódio e autoritárias voltem a se repetir", explicou Deborah Neves, historiadora e técnica da Unidade de Preservação do Patrimônio Histórico da Secretaria da Cultura e Economia Criativa.

    Deborah disse que a decisão só foi possível graças ao trabalho do historiador Sidney Aguilar Filho, que localizou, além de evidências materiais, pessoas que trabalharam na Fazenda Cruzeiro do Sul.

    "Depois que o estudo de tombamento foi aberto, durante o processo, houve uma ação humana para promover a destruição do local. Nossa equipe técnica foi à fazenda e apontou medidas de preservação, que nunca foram implantadas. Em 2016, constatamos o desaparecimento quase total das edificações. Os tijolos com as suásticas estavam partidos ao meio e parte do material estava ocultada debaixo de uma plantação de cana-de-açúcar. O estado ingressou com uma ação civil para investigar os responsáveis", lembra.

    Descoberta de símbolos nazistas

    O tombamento da fazenda e da ferroviária foi determinado quase 30 anos após o fazendeiro José Ricardo Maciel encontrar tijolos marcados com suásticas nos locais, enquanto reformava um chiqueiro.

    Além das grafias, o fazendeiro também encontrou fotos de animais marcados a ferro com o símbolo, guardadas na propriedade, que evidenciam a presença de partidários do ditador Adolf Hitler na região.

    Depois da primeira descoberta, José Ricardo decidiu buscar outras marcas na propriedade e ficou novamente impressionado ao encontrar o mesmo símbolo em várias construções, até mesmo em uma capela.

    Em 1998, o achado histórico em Campina do Monte Alegre chegou ao conhecimento do historiador Sidney Aguilar Filho.

    "Durante uma aula sobre o movimento nazista, uma aluna contou que havia centenas de tijolos na fazenda de sua família. A partir daí, comecei a estudar sobre o assunto", conta.

    Após anos de pesquisa, Sidney constatou que a Fazenda Cruzeiro do Sul pertencia a uma família muito poderosa no Rio de Janeiro, que mantinha negócios em São Paulo e integrava a Ação Integralista Brasileira (AIB), organização de extrema direita simpatizante do nazismo.

    O historiador também descobriu que os antigos donos traziam crianças negras de orfanatos cariocas para viver e trabalhar na região. Esses meninos não tinham nomes e eram chamados por números.

    Ao todo, 50 meninos teriam vivido em situação de escravidão em Campina do Monte Alegre. Entre eles, Aloysio da Silva, que teve sua história contada no filme "Menino 23: Infâncias Perdidas no Brasil".

    Conquista

    Sidney relatou que o tombamento da Fazenda Cruzeiro do Sul e da Ferroviária é uma grande conquista aos historiadores e, principalmente, às vítimas escravizadas. Para ele, a decisão dará abertura a novos estudos do campo politico, cultural, histórico e artístico no estado de São Paulo.(Do G-1)

     

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