• Apesar de resistências, redução de ministérios começa a ser discutida para nova fase do governo

    125 Jornal A Bigorna 07/07/2025 07:00:00

    Publicamente, o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Sila continua a evitar, quando não hostilizar, uma maior austeridade nos gastos de governo. Mas nos corredores do Palácio do Planalto, o corte de gastos já deixou de ser um tabu, e aliados de Lula defendem que se faça alguma redução real de despesas, dentro do que for possível numa administração que investe em programas sociais, facilidades do microcrédito e outras medidas que exigem que se abra o cofre. A tesoura iria então para as viagens ao exterior e em pastas de menor orçamento. Mas ainda há resistências internas a essa mudança de rumo.

    Há quem proponha a fusão de pastas das áreas sociais como Igualdade Racial, Mulheres e Direitos Humanos em uma mesma estrutura. O argumento é que, mesmo simbólicas, essas reformulações ajudariam a reposicionar o presidente, já tendo em vista as eleições do ano que vem.

    — Lula deve reduzir o número de ministérios — defendeu o deputado Zeca Dirceu (PT-PR). — Só reduzir já seria simbólico.

    A menos de um mês do recesso parlamentar, cresce no Planalto a percepção de que, diante dos índices de aprovação em queda e com o governo encurralado pelo Congresso, é preciso o lançamento informal de um novo ciclo político, o chamado “Lula 4”. Nesta nova etapa, as políticas sociais seriam reforçadas, para indicar maior proximidade com o eleitorado de menor renda. Mas ao lado de medidas de enxugamento.

    O movimento ganhou fôlego nas últimas semanas, impulsionado pela crise em torno dos decretos que aumentavam o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e foram derrubados pelo Legislativo. A decisão do governo de recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) acirrou a tensão com congressistas.

    Na sexta-feira, Lula acenou com a possibilidade de um novo mandato. A manifestação ocorre em meio a uma campanha de governistas pela taxação dos “super-ricos” e a intensificação do discurso do “nós contra eles”.

    — Não quero nervosismo. Tem gente pensando que só porque eu tenho um ano e meio de mandato o governo acabou, mas eles não sabem o que estou pensando. Se tudo tiver como estou pensando, esse país vai ter pela primeira vez um presidente eleito quatro vezes — afirmou o presidente.

    A ideia é iniciar essa virada com um “pacote de gestos”, que incluiria a contenção de viagens internacionais e o relançamento de programas sociais voltados ao empreendedorismo popular.

    Um dos pilares dessa agenda direcionada aos pequenos empreendedores seria a ampliação de linhas de microcrédito e o reforço de financiamento para grupos-chave, como motoboys que desejam comprar motocicletas, além de estímulos ao microempreendedor individual (MEI). A ideia é mostrar que o governo “sabe com quem está falando” e não está refém do Congresso.

    Aliados defendem ainda o resgate de bandeiras que sustentaram a popularidade de Lula em mandatos anteriores, como os programas sociais. Um articulador reconhece que é preciso organizar o discurso político para fazer a transição do Lula 3. O povo, segundo ele, lembra do Bolsa Família e do Minha Casa Minha Vida. “Mas e agora?”, pergunta, apesar de iniciativas como o Pé-de-Meia, lançado para combater a evasão no ensino médio.

    Por enquanto, o núcleo mais próximo de Lula, que inclui o ministro da Secretaria de Comunicação, Sidônio Palmeira, está focado no embate com o Congresso e na orientação do discurso sobre a necessidade de taxar os mais ricos. Esse também pode ser um discurso incorporado à campanha eleitoral.

    Segundo parte dos governistas, há ainda problemas para a construção de um caminho de consenso. No Planalto, por exemplo, os sinais de desgaste são filtrados, e evita-se levar ao presidente diagnósticos mais duros. Publicamente, ministros também não comentam o assunto.

    — O governo está no rumo certo. As entregas que estão sendo feitas significam o cumprimento das promessas feitas — disse o titular do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira.

    O presidente da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara, deputado Rogério Correia (PT-MG), não vê necessidade de cortes adicionais.

    — O que falta agora é ampliar a arrecadação sobre os mais ricos, que hoje têm isenções absurdas — afirmou.

    Mas o otimismo não é compartilhado por todos os parlamentares, como é o caso do líder do PDT na Câmara, deputado Mário Heringer (MG). Após a saída de Carlos Lupi do Ministério da Previdência, a bancada pedetista se afastou da base.

    — Vai ser um grande exercício. Se (o governo) não melhorar esse relacionamento (com o Congresso), não terá nenhuma chance — disse Heringer.

    O presidente do Solidariedade, deputado Paulinho da Força (SP), que apoiou a reeleição de Lula mas vem fazendo críticas ao governo, tem o mesmo diagnóstico:

    — A situação do governo não é nada boa. O governo hoje não aprova mais nada no Congresso. Se não houver um acordo, o final do governo Lula será dramático.(Do Globo)

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