
Em Iaras, no sudoeste do Estado, os 8,2 mil habitantes veem a cidade dividida. Parte dos moradores que vivem em liberdade plena olha com desconfiança os 2.731 habitantes que vivem totalmente confinados ou em regime semiaberto.
“Para falar a verdade, incomoda ver que eles têm até mais liberdade que a gente e estão tirando o emprego de quem é daqui”, disse a estudante Alessandra Inocente, de 18 anos.
Iaras é a segunda do ranking, com aumento populacional de 29,8% desde 2010. Já são 8.230 habitantes, dos quais um terço está na cadeia. Já a população de Pracinha, cidade que fica na região de Presidente Prudente, no oeste paulista, cresceu 28% nos últimos seis anos, chegando a 3.659 habitantes, dos quais metade cumpre pena no presídio do município, inaugurado em 2001. Um ano antes, a cidade tinha 1.431 moradores.
Para o comerciante José Salvino Martins, de 63 anos, da Pousada Três Irmãs, em Iaras, a chegada do presídio e das quatro unidades da Fundação Casa, que abrigam menores em regime de internação por atos infracionais, foi a redenção. Ele comprou uma área vizinha do complexo prisional e abriu um pequeno boteco. Hoje, o lugar virou um restaurante e uma hospedaria com oito apartamentos. “Em 15 anos de Iaras, acertei a minha vida.”
Além das visitas dos presos nos fins de semana, ele atende diariamente dezenas de funcionários públicos. O único sobressalto, diz, foi durante a megarrebelião que atingiu unidades prisionais de todo o Estado, em 2006, nos ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC). Depois disso, os presos da facção foram transferidos.
Segundo o vice-prefeito Marcos José Rosa (PSDB), após a transferência, os índices de violência caíram. Neste ano, Iaras registrou, até agosto, um homicídio, um caso de estupro, dois roubos, um roubo de carga, dois furtos de veículos e 17 furtos simples, de acordo com dados da Secretaria da Segurança Pública. Hoje, o presídio e a Fundação Casa já são o segundo maior empregador da cidade, atrás só da prefeitura, que emprega 390 servidores, entre os quais presos em regime semiaberto.
Ele diz que a maioria dos moradores livres da cidade se acostumou a conviver com os presos e o impacto da população carcerária na população local seria ainda maior se a cidade não tivesse recebido, nos últimos anos, um assentamento da reforma agrária com 450 famílias.
Mesmo com o crescimento populacional decorrente do número de presos, a cidade mantém a mesma cota do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), por não ter atingido 10 mil habitantes. “Há uma proposta de que as cidades pequenas com presídios recebam uma compensação, mas está parada em algum lugar”, diz Rosa.(Com informações do Estadão)