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    Lucro alto com tráfico de drogas faz PCC deixar de cobrar “mensalidade” de integrantes

    541 Jornal A Bigorna 29/02/2024 17:20:00

    O alto lucro do Primeiro Comando da Capital (PCC) com o tráfico internacional de drogas, atual carro-chefe da organização, fez a facção deixar de cobrar mensalidade de seus integrantes. Os pagamentos, conhecidos como “cebolas”, eram usados para custear despesas com presos, contratar advogados e arcar com outros gastos operacionais.

    “A última ‘cebola’ cobrada, de R$ 850 (por integrante), foi em 2020″, disse ao Estadão o promotor de Justiça Lincoln Gakiya Lincoln Gakiya, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP). A partir de 2021, segundo ele, a cobrança foi encerrada.

    O valor teria passado a ser irrisório diante do dinheiro obtido com o tráfico: hoje, o PCC lucra cerca de US$ 1 bilhão (quase R$ 5 bilhões) anuais, em especial com a venda de cocaína para Ásia, África e Europa. “É um negócio ilícito com lucratividade muito alta e risco muito baixos. Quando se perde, se perde a droga, e dificilmente se prende alguém”, afirmou Gakiya.

    O tráfico internacional de drogas tem sido o principal foco da organização ao longo da última de suas três décadas de existência. Investigações indicam que o PCC paga de US$ 1,2 mil a US$ 1,4 mil (entre r$ 6 mil e R$ 7 mil) pelo quilo de cocaína para países vizinhos, como Colômbia e Bolívia. Na Europa, revende, em média, por € 35 mil, em envios que ocorrem principalmente por meio dos portos brasileiros, como o de Santos.

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    Mas o lucro pode ser ainda maior, a depender do destinatário final. “Na França, chegou a € 80 mil o quilo de cocaína no início do ano. Se for para a Ásia, por exemplo, pode chegar a US$ 100 mil dólares, ou até US$ 150 mil dólares no Japão”, disse Gakiya. A alta lucratividade, afirma ele, tem colocado o Primeiro Comando da Capital na mira inclusive de órgãos internacionais.

    Em 2021, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, assinou ordem executiva que dá ao Tesouro americano ferramentas para sancionar estrangeiros envolvidos no tráfico internacional de drogas. Na época, a Casa Branca listou 25 atores, entre indivíduos e organizações, que estão na mira de Washington e terão sanções aplicadas. Entre eles, o PCC.

    “É uma lista importante para eles, já que permite que o governo americano faça bloqueio de bens e de dinheiro de pessoas possivelmente envolvidas com o PCC e estejam nos Estados Unidos. Isso não é para qualquer organização criminosa. Na lista, estão os carteis mexicanos, os carteis colombianos, a Al Qaeda, o Estado Islâmico e outras organizações terroristas”, disse Gakiya.

    Apuração da Operação Sharks, do Ministério Público paulista, indicou que o PCC destinou, só em 2020, cerca de R$ 1,2 bilhão para fornecedores do Paraguai. O montante foi enviado por meio de doleiros, pagos para fazer esse tipo transação, e teve como objetivo custear as compras para abastecer o tráfico interno de cocaína do PCC. Hoje, o Brasil é o segundo maior mercado consumidor.

    “Como o tráfico interno é um quinto da arrecadação do tráfico externo hoje – eles ganham muito mais com o tráfico para a Europa. Calculamos arrecadação anual próxima de U$ 1 bilhão, envolvendo tráfico interno e externo”, disse Gakiya. “O tráfico internacional fez o PCC subir de patamar: de uma pequena facção, que começou nos anos 1990, para uma organização criminosa com matiz de espectro mafioso.”

    Essa definição, afirma, se dá pela divisão sofisticada de funções em vários setores, por ser transnacional e por já ter infiltração nos poderes do Estado, com corrupção de agentes públicos.

    Como mostrou o Estadão, algumas empresas de ônibus que mantêm contratos com a Prefeitura de São Paulo têm diretores investigados pela polícia em razão da suposta participação em crimes ligados ao PCC.

    O crescimento da facção, ao mesmo tempo, é acompanhado por disputas de poder. Como mostrou o Estadão, o líder máximo do PCC, Marcola, encomendou a morte de outros três nomes da alta cúpula da organização criminosa, segundo “salve” (orientação geral a outros membros) investigado pelo MP.(Do Estado de SP)

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