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    Na contramão do mundo, brasileiros veem piora nos serviços do Estado na pandemia

    631 Jornal A Bigorna 23/09/2021 21:00:00

    Na contramão do resto do mundo, a percepção dos brasileiros em áreas chave como educação, saúde e meio ambiente piorou acentuadamente durante a pandemia da Covid-19. A deterioração na avaliação das políticas adotadas foi maior entre os mais pobres.

    Os resultados de uma pesquisa Gallup World Poll realizada em 40 países e analisada pela FGV Social mostram que a crise sanitária, como previsto, aumentou as desigualdades brasileiras.

    Mas o efeito foi inverso na média global, sugerindo redução da desigualdade, com as parcelas de menor renda tendo avaliações mais positivas do que as de maior renda.

    Durante a pandemia, o Brasil foi um dos países do mundo que ficaram mais tempo sem aulas presenciais, e o ensino online também foi muito limitado, sobretudo nas escolas públicas.

    Na média desses países, a avaliação também caiu, mas apenas marginalmente —e a queda foi maior entre os mais ricos, o que aponta para a diminuição da desigualdade educacional.

    No Brasil, quanto mais baixa a classe social do aluno, menor foi a oferta de atividade escolar na pandemia. Dados da FGV Social com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Covid-19 de agosto de 2021 mostraram que entre alunos de 6 a 15 anos da classe A/B, apenas 2,9% não tiveram oferta de tarefas escolares. Na classe E, a média no país sem aulas foi de 21,1%.

    A diminuição das horas de aula na pandemia deve afetar ao longo do tempo sobretudo os mais pobres, já que, em média, cada ano de ensino a mais no Brasil representa ganho de 15% no salário futuro; e 8% mais chance de conseguir um emprego.

    Crucial na pandemia, a qualidade do sistema de saúde brasileiro também teve avaliações bastante negativas; e ainda maiores quanto mais pobres os usuários.

    Entre os 40% de menor renda, a piora de avaliação foi de 10,5%. Já entre os 40% mais ricos, menos dependentes de serviços públicos (há 48,2 milhões de usuários de planos de saúde no Brasil), a avaliação ficou praticamente estável (alta de 0,5%).

    No início da pandemia em 2020, o número médio de leitos de Unidades de Tratamento Intensivo no país era de 2,2 para cada 10 mil habitantes. Mas no Sistema Único de Saúde, público, havia apenas 1,4. Na rede privada, 4,9.

    Em fevereiro deste ano, o estudo “Desigualdade Social e a mortalidade pela Covid-19 na cidade de São Paulo”, com base em 19,5 mil óbitos, identificou que nos distritos em que mais de 10% da população tinham renda per capita inferior a R$ 275, morreram 70% mais pessoas de Covid-19 do que nas regiões mais ricas.

    Outro trabalho, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, revelou que 79,6% dos óbitos registrados na cidade do Rio de Janeiro ocorreram nas áreas mais pobres —tanto pela saúde deficiente nessas regiões quanto pelas condições socioeconômicas precárias dos infectados.

    Mais uma vez na contramão do Brasil, nos demais países pesquisados, a avaliação média da área de saúde na pandemia melhorou entre os 40% mais pobres (+2,3%) e manteve-se estável entre os mais ricos.

    "O Brasil na pandemia virou uma maquina de gerar desigualdades”, afirma Marcelo Neri, diretor da FGV Social. “Na média global, a desigualdade nas políticas de saúde, educação e meio ambiente percebidas pelo cidadão na ponta cai. Somos a imagem invertida disso. Além de piorar mais para os de menor renda aqui, piora mais para a média brasileira como um todo."

    Desde 2005, a pesquisa Gallup cobre população acima de 15 anos em mais de 130 países, sempre com o mesmo questionário. Por causa da pandemia, houve restrição de cobertura e atraso na realização da pesquisa. Os 40 países do levantamento analisado pela FGV Social tiveram a amostra iniciada antes de 8 de julho de 2020.(Da Folha de SP)

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