
O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes concedeu uma entrevista ao jornal norte-americano The Washington Post, que o descreveu como "o juiz que se recusa a ceder à vontade de Trump".
Moraes contou que estava assistindo a um jogo do Corinthians quando o celular dele começou a apitar com várias mensagens: Jair Bolsonaro (PL) havia descumprido a ordem de não usar as redes sociais, descreve o jornal. Ele agiu imediatamente, decretando a prisão domiciliar do ex-presidente, que será julgado no próximo mês sob a acusação de tentativa de golpe de Estado.
"Eu entendo que, para a cultura norte-americana, é mais difícil entender a fragilidade da democracia, porque nunca houve um golpe lá. Mas o Brasil teve anos de ditadura sob [o presidente Getúlio] Vargas, outros 20 anos de ditadura militar e inumeráveis tentativas de golpe. Quando você é mais atingido por uma doença, você desenvolve anticorpos mais fortes e procura uma vacina preventiva", afirmou.
"Faremos a coisa certa: receberemos a acusação, analisaremos a evidência, e quem deve ser condenado será condenado, e quem deve ser absolvido, será absolvido."
O governo de Donald Trump sancionou Moraes com a perda do visto e com a Lei Magnitsky, criada para punir acusados de graves violações contra os direitos humanos, que proíbe que ele faça transações com instituições financeiras que atuam nos Estados Unidos.
"É agradável passar por isso? Claro que não é agradável. Todo constitucionalista tem grande admiração pelos Estados Unidos", disse Moraes.
"Essas narrativas falsas acabaram envenenando a relação [entre Brasil e EUA] —narrativas falsas apoiadas por desinformação espalhada nas redes sociais. Então o que precisamos fazer, e o que o Brasil está fazendo, é esclarecer as coisas", afirmou. "Enquanto for necessário, a investigação vai continuar."
O presidente da Primeira Turma do STF, ministro Cristiano Zanin, marcou para o dia 2 de setembro o início do julgamento do núcleo central da trama golpista. Bolsonaro e outros sete são réus sob a acusação de crimes contra a democracia.
A expectativa é que o julgamento dure duas semanas, com cinco dias para a análise do caso. Foram marcadas sessões para os dias 2, 3, 9, 10 e 12 de setembro.
As datas foram definidas nesta sexta-feira (15), após Moraes comunicar a Zanin que estava pronto para levar o processo da trama golpista a julgamento.