
A vida está chata. O prazer da vida normal se foi desde o ano passado. Vivemos num clima ainda sem muitos rumos, poucas alternativas e centenas de questões internas nos remoendo sem respostas.
Não encontramos as respostas para o que estamos vivendo e sentindo há tempos – eu pelo menos – ainda não me achei, e isso é perigoso demais. Perder o sentido da vida e de sua normalidade deixa o homem circunspecto e sem esperança.
Acredito que tudo terá fim, assim como a chuva nos molha e se vai, esta doença que ‘pandemoniou’ nosso mundo, também irá, mas quando? Realmente, não sei. Apenas sei que o pouco que sei, me leva a saber que nada sei.
Tenho saudades de meus passeios no Largo São João, uma parada pra tomar um café com os amigos. A idade nos impõe obstáculos, e com esta doença, nos coloca entre grades invisíveis de nossa mente e em nossa sociedade.
A vida normal ainda não voltou, quiçá ainda consigamos neste ano termos o pequeno prazer de sermos como somos, - normais e vivendo com um pouco de dignidade. A esta altura da vida, cada ano que se passa é um a menos em nossa vida, e viver é saber labutar os dias da vida entre esperanças, agonias, desassossegos, felicidades e viver para poder dar um sorriso.
A vida, apesar de muito difícil, ainda é nossa, e creio que ao ver esse cenário ainda aterrador, onde pessoas perderam empregos, famílias foram destroçadas, pessoas despedaçadas, ainda sim, há um motivo para sonhar a voltar a ter uma vida normal, pois é estranho lutar para se obter o direito de ter uma vida normal.
Acredito que teremos, mesmo que demore algum tempo, nossas vidas devolvidas – a normalidade de ser um ser sociável. Que este sofrimento abra a mente de muitas pessoas, que vejam que não somos nada quando uma pandemia nos acua e nos ameaça.
Somos peças de xadrez, sendo reis, rainhas, bispos, cavalos, torres e até nós peões, já que quando o jogo acaba, todos vamos para o mesmo lugar.
É preciso lutar, mas além de tudo é preciso mudar!
Chatô é escritor.