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José Carlos Santos Peres
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Há um visível descrédito com a política. Tem a ver com ações nada republicanas tomadas por personas que se fazem em busca de interesses partidários, quando não particulares.
Dizer-se político, hoje, é temerário. Como estabelecer a narrativa da excelência de uma arte pensada para sedimentar o entendimento com tantos desmandos provocados por aqueles que chegam ao poder?
Resgatar a excelência ao estabelecer a liturgia do cargo é o grande desafio colocado à classe política. Mas como fazer, quando elegemos pessoas que mal sabem dimensionar o nó da gravata do hábito?
Cada eleição que passa, em todas as suas dimensões, mais e mais ogros são selecionados.
Eles cercam-se dos seus, se buscam pela familiaridade de ideias e comportamentos; os eleitos são estimulados ou intimados a criarem desertos para abrigarem determinados camelos.
A vontade popular expressa em votos nem sempre é contemplada em toda a sua plenitude já que o eleito – para qualquer cargo executivo – acaba por abrigar no poder muitos daqueles que foram rejeitados nas urnas.
A grande reforma política pretendida – e nunca realizada por completo – deveria ponderar sobre alguns pontos, considerando a vida pregressa e atual dos postulantes. Para tanto, e aí entraria a responsabilidade dos partidos políticos, cada um dos pretensos candidatos a qualquer cargo – Executivo ou Legislativo – deveria saber do nó da gravata do hábito.
Só assim, selecionando melhor os candidatos – no aspecto ético, principalmente – a classe política teria condições de melhor se qualificar para exercitar o núcleo daquela narrativa que hoje não se sustenta: entender a política como a arte do entendimento.
*José Carlos Santos Peres é escritor