• Opinião: Sem reeleição _ Zé Carlos Santos Peres

    2232 Jornal A Bigorna 12/12/2019 17:00:00

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    *José Carlos Santos Peres

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    Jô Silvestre pensa em continuar no comando da administração pública, submetendo seu nome à vontade popular, em outubro do próximo ano. Como ele, outros prefeitos em pleno exercício já trabalham olhando o horizonte eleitoral.

    Não há como separar, na cabeça de alguém que age na perspectiva futura, a resolução de problemas e interferências no presente sem ponderar as consequências. Não estamos falando de campanha antecipada, mas de uma condição intrínseca ao fato de estar candidato.

    Talvez a questão da reeleição (exercício seguido) se constitua em algo a ser extinto, para o bem da prática democrática. É óbvio que há favorecimento na disputa, em relação aos demais disputantes, àquele que está com a máquina sob o seu comando.

    Nada contra a candidatura do Jô Silvestre, claro. Ele está dentro da lei, que lhe faculta a condição de ser candidato à fatia primeira de um bolo, enquanto equaciona os ingredientes. Questionamos essa particularidade eleitoral, de maneira geral, porque desnivela o jogo.

    Vale também para o Legislativo. Um vereador, ao longo de um ou mais mandatos, constrói uma história, cria seguidores, estabelece vínculos, muitas vezes baseados em privilégios e particularidades.  No passado falávamos em currais. Não é esse o caso, necessariamente. Mas em muitos casos é esse o caso.

    Quem está em campo ganha expertise, adquire fundamentos que o exercício oferece à sua qualificação... Enfim, consolida-se.

    Sou contra a reeleição direta para qualquer cargo. Até para presidente de clube esportivo. Até para Síndico. Continuísmo em política não faz bem à Democracia. A alternância, sim.

    Penso que o agente, com o fim do seu mandato, deveria ir cuidar de sua vida (não poderia ser aproveitado em nenhum outro cargo público, feito por nomeação), podendo retornar à lide política após o espaço de um período legislativo.

    Um período sabático de quatro anos cairia bem a qualquer político. E aos eleitores também, que mesmice na política só serve para esquemas, musgos e toxinas; igrejinhas e corporativismos. Todo poder precisa oxigenar-se com novas ideias e práticas.

    Um prefeito, hoje em plena atividade, não deixa de olhar a eleição de 2020 quando pavimenta uma rua, quando inaugura um poste, quando pratica qualquer ato administrativo. 

    Qualquer obra, mesmo estadual ou federal, lhe serve de muleta eleitoral; qualquer emenda parlamentar que venha beneficiar o município já lhe reserva uma carona; o remédio volta, a merenda melhora, o funcionalismo passa a receber em dia...

    O vereador, em seu último ano de atividade, mede mais buracos, pisa mais no barro, visita mais feiras e beija mais crianças; e legisla mais, e fiscaliza mais.

    Depois de reeleitos, prefeito e vereadores (nem todos) caem na vala-comum da atividade, na rotina da pasmaceira legislativa, e deixam o tempo passar, sem deixar, porém, de olhar para o calendário eleitoral.

    José Carlos Santos Peres é escritor

     

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