• Palanque do Zé #319 – Uma tarde em Morretes

    374 Jornal A Bigorna 23/09/2024 13:20:00

    Palanque do Zé

    “No Reino da Memória, o tempo é sempre o presente”. Li essa frase num dos livros de Stephen King, só não me recordo em qual.

    De toda forma, acredito piamente na verdade que ela intrinsecamente traz: O passado está sempre presente em nossas vidas.

    Enquanto tomava banho numa fria tarde de domingo, me lembrei de uma viagem que Mamãe e eu fizemos para Curitiba em 2013 ou 2014, não me lembro bem.

    O que sei é que de lá, fomos num trem turístico que margeia a Estrada da Graciosa, para Morretes, num caminho de 28,5 quilômetros que atravessa o trecho mais preservado de Mata Atlântica do Brasil.

    Lá é possível passar pela floresta tropical e pelos belos riachos que nascem na Serra do Mar. É realmente um lugar que vale a pena estar. Mas não de trem, que vai absurdamente devagar.

    Morretes é uma cidade histórica e turística, fundada pelos jesuítas pelos idos de 1733.

    Apesar dos casarões preservados, das ruas extremamente limpas e do povo acolhedor, ficou conhecida nacionalmente mesmo, pelos  restaurantes que servem o tradicional barreado, prato típico paranaense preparado com carnes de vaca tais como paleta, acém e msculo, que são ricas em colágeno.

     

    Após serem cozidas por bastante tempo num buraco debaixo da terra, a carne gera um caldo grosso e saborosíssimo, que é  misturado com farinha de mandioca crua para fazer  pirão.

    Antes de montar o prato com acompanhamentos como banana-da-terra e arroz branco, os garçons fazem questão de virar o prato na cabeça dos turistas e mostrar que a mistura – que tem a mesma consistência da argamassa usada para fixação de azulejos – não cai.

    Mas contei tudo isso, só para poder dizer que em Morretes faz tanto calor, que chega a ser sufocante. Como essa aprazível cidade do litoral paranaense fica numa espécie de vale, ventos não são comuns por lá. Tanto é verdade que o rio Nhundiaquara, que corta a cidade e nasce a partir da confluência dos rios São João e Ipiranga, flui a uma velocidade quase imperceptível aos olhos. Só percebi a correnteza graças a uma folha de árvore que passava graciosamente diante do banco em que Mamãe e eu escolhemos para admirar a paisagem.

    Esse é um momento que ficou guardado para sempre em minha memória. Às vezes, como aconteceu hoje, ele submerge do inconsciente aparentemente do nada, apenas como um recado de que o tempo está passando rápido e que hoje eu já sou um homem de meia idade, que – a julgar pela média de expectativa de vida – já tem mais passado do que futuro.

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