Gosto de gibis desde criança. Acho que eles são os grandes responsáveis por me introduzirem no mundo dos livros. Quando estava em recuperação de qualquer das minhas várias cirurgias, o que era bem comum, minha mãe passava na Banca do Flávião e comprava gibis do Tio Patinhas, Donald, Mickey, Pateta, Zé Carioca, Urtigão, Chico Bento, Turma da Mônica e coisas assim. Eu os colecionava, e cheguei a ter uns 500 gibis, todos devidamente guardados, catalogados e limpos. Talvez, daí também tenha surgido o meu apreço por colecionar livros.
Como cresci, naturalmente meu gosto mudou. Passei a me interessar por assuntos “de adulto”, tal como guerras e suas consequências. Minha grande paixão a nível histórico é a Segunda Guerra Mundial, maior conflito armado que a humanidade já viu.
Dito isso, não havia como eu não gostar de “O Elísio: Uma Jornada ao Inferno”. Essa obra de Renato Dalmaso, por meio dos quadrinhos, conta a história da Força Expedicionária Brasileira sob a ótica do soldado Eliseu de Oliveira (1922-2012).
O título do gibi (ou graphic novel, como queira), se refere a um dos significados do nome Eliseu. Na mitologia grega, os Campos Elísios são um lugar no Paraíso para onde os heróis vão quando morrem.
Por meio das aquarelas pintadas com cores sóbrias pelo Autor, vemos Eliseu em combate, sob forte ataque da Infantaria e Força Aérea do Eixo, mas também o vemos se apaixonar, ser capturado e feito de escravo em campos de concentração, locais onde passou fome, sede e frio.
A magia desse gibi, é que ele conta a história de um homem comum que aceitou para si uma tarefa hercúlea: Garantir um Mundo livre para todos.
Renato Dalmaso optou por não traduzir alguns diálogos que aparecem na obra em Inglês, Alemão e Italiano, para que leitor sinta as mesmas dificuldades de comunicação que os Pracinhas tiveram na época. Mas nada do que está em outra língua é tão essencial, e acaba por não atrapalhar a compreensão da história. Mas se você é curioso e se interessar em buscar as traduções, uma boa dica é ir até a Loja de Aplicativos do seu celular e baixar o Google Lens. Daí é só apontar a câmera do seu aparelho para as palavras em língua estrangeira e pronto, a magia está feita automaticamente, com traduções bastante precisas, apesar de alguns erros pontuais.
Vale salientar que “O Elísio: Uma Jornada ao Inferno” é baseado na história do soldado Eliseu de Oliveira, como dito acima. Ela foi narrada, ainda em 1945, para o jornalista Altino Bondesan, o qual escreveu o livro “Um Pracinha Paulista no Inferno de Hitler”. Hoje, esse é um livro bem raro e só consegui encontrar um único exemplar à venda na internet, por R$ 180,00.
Mas vale lembrar que o Autor do gibi tomou conhecimento da história de Eliseu por causa de um artigo científico de cinco laudas, intitulado “Um Pracinha Paulista no Inferno de Hitler: Um Livro de Memória da Guerra, de autoria de Douglas de Almeida Silva, o qual você pode ler gratuitamente no link que disponibilizo abaixo.
Finalmente, mas não menos importante, caso ainda não seja de seu conhecimento eis que a escola e o Governo parecem não se importar em te ensinar sobre isso, vale salientar que a Força Expedicionária Brasileira foi uma força militar constituída por 25.834 homens e mulheres para lutarem na Segunda Guerra Mundial ao lado dos Aliados. Antes de os alemães se renderem, nossa Divisão foi a única que capturou uma divisão alemã inteirinha, incluindo o alto escalão.
A Força Expedicionária Brasileira permaneceu em batalha por duzentos e trinta e nove dias seguidos, o que nos coloca na 13ª posição em relação às Divisões que mais guerrearam durante o conflito. Ao final da guerra, aprisionamos mais de vinte mil soldados inimigos, oitenta canhões, mil e quinhentas viaturas e quatro mil cavalos.
Mesmo com a campanha vitoriosa, os Pracinhas regressaram ao Brasil e foram recebidos com frieza pelo Ditador Getúlio Vargas, que via os heróis brasileiros do mundo livre como uma ameaça ao seu regime populista.
Somente nos anos 60 os restos mortais dos que tombaram pela Pátria na Europa puderam regressar ao Brasil, e hoje as suas cinzas, que antes estavam no cemitério de Pistoia, agora se encontram no monumento aos mortos que foi erguido no Aterro do Flamengo, na zona sul da cidade do Rio de Janeiro.
Falando um pouco mais localmente, 33 avareenses foram convocados para atuar na Guerra, sendo que o único a tombar foi Sérgio Bernardino, que foi morto na Batalha de Montese, em 14 de abril de 1945.
Nada mais justo do que encerrar o texto lembrando os nomes dos Heróis que integraram a Tropa Avareense: (Tenente) Benedito Rodrigues, (Sargentos) Aubin Pinto de Toledo, Augusto Tobias e Olavo Merchet Mendes, (Cabos) Domingos Barreira Sobrinho, Francisco Verpa, Lázaro Alves e Pedro Luiz Dias da Fonseca, (Soldados) Antônio Antunes de Arruda, Arnold Bento Mariano, Avelino Pinto Carneiro, Benedito José Pereira, Edmundo Trench, Hugo Mazzoni, Isoldino Francisco, João Batista, João Dias da Silva, João Venâncio, Joaquim Aprígio Ferreira, Joaquim Moura Pinto, José Barbosa Pereira, José Fernandes Marques, José Silva, José Valim Filho, Luiz de Moura, Luiz Quartucci, Nicola Cortez Neto, Pedro Mariano da Silva, Pedro Nespeca, Rufino Gomes, Sérgio Bernardino, Vicente Honorato de Morais e Ulisses Padilha.
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Link do artigo:
(http://www.inicepg.univap.br/cd/INIC_2010/anais/arquivos/0648_0491_03.pdf)
Link do livro:
Link do Gibi:
(https://www.amazon.com.br/El%C3%ADsio-uma-jornada-inferno/dp/8554470508)