
Aos meus amigos e amigas comerciárias, neste mês quero falar sobre um assunto que afeta diretamente a classe comerciária: a escala 6×1.
Quantas vezes, na vida, ouvimos das mais variadas classes sociais e de diferentes profissionais a seguinte frase: “A vida não é só trabalhar”? A imensa maioria da população brasileira entende bem o significado dessa expressão e sente, na pele, todos os dias, a carga horária de trabalho no Brasil.
A semana dividida em seis dias de trabalho e apenas um de descanso é desumana. Além do desgaste físico, prejudica a saúde mental, desagrega famílias, afasta amizades e, ao dificultar o lazer, “joga para escanteio” os momentos de felicidade, gerando irritação, mau humor, doenças e, por diversas ocasiões, violência.
É importante ressaltar que medidas de redução da jornada de trabalho foram experimentadas com sucesso em vários países, entre eles Alemanha, Itália, França e Inglaterra. Na Islândia e na Nova Zelândia, assim como nos países nórdicos — Dinamarca, Suécia, Noruega e Finlândia —, a redução da jornada, com aumento dos períodos de descanso, tem ganhado cada vez mais espaço, com manutenção dos salários e, muitas vezes, aumento da produtividade.
Outro fator que impacta diretamente é a economia. Quando sou questionado sobre minha análise quanto aos possíveis danos econômicos, tenho, de imediato, argumentos concretos para demonstrar o quanto a redução da jornada de trabalho pode, na verdade, ajudar — principalmente o comércio.
Nos últimos anos, estamos presenciando uma migração para as compras via internet, e um dos principais argumentos utilizados pelo consumidor para essa prática é a falta de tempo para realizar o consumo de forma presencial, em lojas físicas.
Vou parafrasear o sociólogo italiano Domenico De Masi, autor do livro O Ócio Criativo, o qual, ainda na década de 1990, tratava do ócio não como inimigo, mas como aliado profissional e econômico — visão que se mostra, hoje, mais atual do que nunca:
“O ser humano precisa de tempo para o lazer, para se dedicar a atividades que gerem prazer, satisfação, alegria — seja sozinho, com a família ou com amigos — e, consequentemente, para as compras.”
Outro argumento que me vem imediatamente à mente é a implantação do 13º salário. Muitos pessimistas, à época, viam a medida com negatividade, afirmando que impactaria negativamente a economia. Hoje, o abono de final de ano é o que permite a movimentação de renda, geração de empregos e o aumento na arrecadação de impostos em dezembro, período em que muitos comerciantes reforçam seus caixas para os meses seguintes.
Para os trabalhadores que recebem o piso salarial, a redução da jornada significaria, imediatamente, aumento do salário por hora trabalhada. Daí a importância de debater as propostas em tramitação no Congresso Nacional.
Sim! Esse é, sem dúvida, o caminho: o diálogo no Congresso. E, para tanto, nossa categoria comerciária pode contar com a atuação do nosso deputado Luiz Carlos Motta, que também exerce, com grande dedicação, a representação comerciária como presidente da Fecomerciários.
Convido, portanto, todos, comerciários ou não, a debaterem com amigos, familiares e representantes políticos sobre a importância e o avanço significativo que representará essa redução na jornada de trabalho.
Vamos juntos em busca de mais essa conquista.
Flávio Zandoná
Presidente