
Quando chegou ao Brasil, em fevereiro, o mais recente coronavírus que emergiu na China encontrou uma equipe de pesquisadores preparada, que já trabalhava com o agente causador da dengue, dominava uma técnica de mapeamento genético rápida e não perdeu tempo para mergulhar no sequenciamento das amostras de vírus colhidas dos primeiros pacientes atendidos na cidade de São Paulo.
À frente desse grupo está a médica Ester Sabino, paulistana de 60 anos, pesquisadora do Instituto de Medicina Tropical da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IMT-FM-USP) e coordenadora do Centro Conjunto Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (Cadde), financiado pelo Medical Research Council, do Reino Unido, e pela FAPESP
Embora reconheça que começou a trabalhar com coronavírus por acaso, não é a primeira vez que ela faz esse tipo de trabalho. No início da década de 1990, quando trabalhava no Instituto Adolfo Lutz (IAL) e na Fundação Pró-Sangue, Sabino participou do sequenciamento das variedades de HIV encontradas no Brasil.
Nos anos seguintes, ela articulou grupos de pesquisa em transfusão de sangue e doenças tropicais para seguir 2 mil pessoas com doença de Chagas e outras 3 mil com anemia falciforme, que ela estuda desde 2006.
A seu ver, o que deve acontecer com a epidemia do novo coronavírus no Brasil?
Como a transmissão desse vírus é muito rápida e difícil de ser contida, aqui deve ocorrer o mesmo que na Itália e no Reino Unido. É impossível estimar o número de casos, mas temos ainda um mês ou dois antes de a epidemia complicar. O pico deverá ser entre o fim de abril e começo de maio, que é o auge das doenças respiratórias no Brasil. Espero que não junte com o aumento também no número de casos de dengue. Seria uma confusão total
Estamos no meio de uma epidemia grande de dengue [182 mil casos no país, dos quais 61 mil no estado de São Paulo, e 32 mortes de janeiro ao início de março de 2020]. Temos de aprender com o que os outros países estão fazendo e ver o melhor momento de fechar escolas, museus e outros espaços públicos, para não ficar abrindo e fechando até o perigo passar. É difícil definir o momento de tomar atitudes mais drásticas, e mais difícil ainda quando é um vírus novo, que não se conhece bem. A Inglaterra está parando agora, mas está com mais casos que o Brasil e já com transmissão interna. A Itália já parou. O maior problema são os hospitais.( Da Revista Pesquisa Fapesp)