• Quanto professor influencia no resultado do aluno? Estudo mede pela 1ª vez no Brasil

    602 Jornal A Bigorna 01/05/2024 09:00:00

    Um estudo inédito realizado por pesquisadores da Fundação Getulio Vargas (FGV) mostra que o professor é responsável por quase 60% do resultado dos alunos na educação fundamental. Isso quer dizer que ele é mais relevante que todas as outras variáveis da escola pública somadas, como número de alunos por turma, escolaridade dos pais, se há ou não internet e até o partido do prefeito.

    Essa é a primeira vez que uma pesquisa consegue medir o impacto do professor na aprendizagem de um aluno no Brasil.

    No ensino médio, esse porcentual cai para 36%, mas ainda é considerado alto pelos pesquisadores porque o docente é comparado com outros 29 fatores que poderiam contribuir para um ensino de qualidade. A pesquisa teve a parceria do Instituto Península, organização do terceiro setor que apoia projetos de melhoria da carreira docente.

    Estudos internacionais chegaram a resultados semelhantes nas últimas décadas. Uma das maiores pesquisas analisou 2,5 milhões de crianças durante 20 anos nos Estados Unidos. Os dados revelaram que estudantes de um bom professor têm maior probabilidade de iniciar o ensino superior, entrar em faculdades de melhor qualidade, receber maiores salários e poupar mais para aposentadoria. Melhores professores são ainda mais importantes para crianças com perfil socioeconômico baixo.

    Por isso, diz a pesquisa da FGV, “a busca de um professor de qualidade virou um mantra das reformas educacionais”. “Se não tiver estratégia para olhar o professor, não adianta fazer reforma de currículo, colocar tecnologias, tempo integral. Importa saber como o professor vai ser preparado para isso”, afirma o pesquisador da FGV Fernando Abrucio, um dos autores dos estudos.

    “Sempre se falou que professor era o elemento mais importante, mas a gente conseguiu dimensionar o que isso significa. Se 60% está na mão desse profissional, se a gente colocar a centralidade no professor, conseguiremos dar um salto na qualidade da aprendizagem no País”, completa a diretora executiva do Instituto Península, Heloisa Morel.

    Para chegar ao impacto do professor, os pesquisadores usaram dados de exames nacionais, como o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e índices de aprovação e de distorção idade-série (porcentual de alunos que tem idade acima da esperada para o ano em que está matriculado). Depois, as 29 variáveis sobre estrutura da escola, família e características das redes foram isoladas para se mensurar o papel do professor no resultado dos estudantes.

    Abrucio explica que o impacto no ensino fundamental no Brasil medido no estudo (57,8%) é parecido com o constatado internacionalmente. Se forem adicionadas as outras variáveis, o impacto delas mais o do professor é de 65,69%. Entre elas, estão dados sobre a existência de biblioteca na escola, quadra de esportes, energia elétrica, água potável e os recursos recebidos pelo Fundeb, o fundo de financiamento da educação no País.

     

    O índice não se propunha a chegar a 100% porque há variáveis que podem influenciar na aprendizagem dos alunos sobre as quais não há dados público, como por exemplo, se uma criança passou fome na infância.

    Para os pesquisadores, o impacto do professor no ensino médio é menor no País (36%) por uma maior desorganização da etapa e até porque o jovem é mais autônomo no processo de aprender. “O professor dá aula em várias escolas, tem a questão da juventude, é preciso saber motivar o estudante, construir talentos”, afirma Abrucio. Para ele, uma política forte para escolas em tempo integral no médio ajudaria a fortalecer o papel do professor, que estaria mais próximo do estudante.(Do Estado de SP)

     

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