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    QUE SEJA ASSIM

    714 Jornal A Bigorna 30/03/2024 18:00:00

    POESIA

    QUE SEJA ASSIM

    José Carlos Santos Peres

     

    Seus os Vinicius, Nerudas e Saramagos,

    os cheiros em frascos...;

    aquela boneca sem os braços

    e os velhos retratos

                               de um tempo de nós dois;

     

    a cesta de vime, as porcelanas trincadas,

    a caneca esmaltada e os laços guardados

                                         do cão que já partiu.

     

    (todos aqueles instantes doces e líricos,

    tudo aquilo que um dia nos uniu).

     

    Ah, não se avexe ao sair de casa

    com a talha nos braços

    (presente de avó se guarda);

    o oratório com suas rendas,

                                  o santo Antão de barro...

     

    Suas: as tigelas do Japão

    e as pedras recolhidas

                               numa tarde em Almeria

    sob a luz de um verão.

     

    MAS DEIXE POR AÍ

    NUM CANTO QUALQUER:

     

    a flâmula banhada nos meus olhos

    de Palmeiras, que dela não abro mão.

     

    (esse querer de homem, meu bem,

    não se troca por qualquer paixão)

     

    E, se não for pedir muito,

    o vinil do Paulinho... Riscado

    pela agulha do seu enfado.

     

    QUE SEJA ASSIM:

     

    Seu: o direito de apagar a luz,

    de se olhar pela última vez no espelho

    e cirandar livre pela sala

    cantarolando Moon River.

     

    Deixe comigo seu perfil na vidraça

    e, por favor, um cadim de sua Minas

    à luz do abajur no aparador:

     

    um quê de frango com bambá

     num prato com couve e quiabo.

     

    Que tudo o mais, para repetir aquele sambista:

    é sonho perdido/ só desatino/ dores demais.

     

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