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    Tango e o Grego

    523 Jornal A Bigorna 10/09/2023 19:50:00

    Dia tenebroso.

    Sem um puto no bolso, liguei pra minha sócia. Sim, sou Tango, Afrânio Tango e o melhor detetive particular, um pouco superior a 007,acho que sou mais destemido.

    E como ia dizendo, pra vocês , pois  sou um homem que não revela segredos, apenas conto as fofocas. Sem grana, nem pra pegar o busão. Liguei a cobrar pra mamãe. Ela está de folga hoje e , agora é minha sócia. Não podia contar, mas acabei contando.

    Mamãe possui 50% da agência, porque lamentavelmente, estamos falindo de tanto cheque sem fundos que recebemos numa curta temporada de ávidas investigações. 

    Povo ingrato, sou contra violência, mas o último cheque que voltou de um magnata fui até o portão da casa dele e enfrentei todos os seguranças. Bateram em mim , mas eu também dei um chute num dos brucutus; não saiu barato pra eles que  ousaram me enfrentar; mas deixa pra lá, coisas do passado que alguns pontos no pronto-socorro resolveram.

    Pois bem, mamãe , obviamente, ficou muito puta. Mandou apenas 4,50 do dinheiro do busão. Ela não é má, mamãe não falha. Parei no Bar da Gertrudes , demos muita risada e acabei passando a noite no forró. Coisa de loco.

    Mas sou um cara de sorte. Antes mesmo de sair do Bar encostou na porta um carrão com uma mulher um pouco mais velha. Apresentou-se  como advogada dizendo que precisávamos conversar.

    Cliente, claro.

    Entrei e rumamos até o escritório.

    Passei a manhã toda dando-lhe a atenção necessária. Ela estava sendo traída pelo marido coisas e tal, da vida, acontece. Se a gente casa e fica muito tempo juntos, acabamos virando irmãos. Tentei explicar a charmosa senhora, porém, sem sucesso.

    No fim acabamos fazendo amor no sofá. O vermelhinho, onde costumo dormir após o almoço. Comprei num bazar de usados; tá um pouco rasgado, mas dá pro gasto.

    Neste vai e vem, ela acabou retornando mais algumas vezes. Sabem como são as coisas. Sou irresistível, e meu trabalho é prestar ajuda; por que não, a pobre chifruda?

    Nas noites em que se seguiram investiguei atentamente o velho. Foram noites e mais noites. Pensem num homem pra gostar de ‘zona’. Só não entrei em nenhuma delas, não porque não queria, mas porque não tinha dinheiro pra entrar nesses lugares mais requintados que a classe alta emerge.

    Isso não atrapalhou minha investigação, já que noutra semana segui-o pelo dia. Foram semanas e uma grana alta brilhou quando finalmente consegui fotografar o ordinário traindo a pobre esposa.

    Bingo, aleluia tudu nóis, enfim, grana.

    Voltei e chamei a pobre coitada.

    Mostrei todas as provas e fomos pro sofá. Só que desta vez a véia teve orgasmos múltiplos e ficou louca. Tive que dar umas bofetadas nela para acalmá-la. Pensa num trem que ficou doida.

    —Bebê. Disse ela mais calma. Não aceita cheques?

    —Infelizmente não querida.

    Sua voz aveludada soltou um ahhhh.

    —Vou te fazer um pix, mas meu bebê, tenho que ir na casa de uma amiga e pedir pra ela fazer, porque senão o meu marido vai descobrir.

    Concordei. Ela acenou e disse que em poucos minutos estaria na conta.

    Quando sai ao escurecer a véia safada ainda não tinha pagado; ordinária. De repente uma Van para e dois me empurram rapidamente, me amarram e colocam um saco preto em minha cabeça.

    Não sei quanto tempo durou a ilustre viagem , já que tomei tanto soco no estômago que nem conseguia mais respirar e desmaiei.

    Quando acordei fiquei cara a cara com o homem. Sim, aquele que eu investigara. Ele fumava uma charuto ( quase pedi um pra ele) e me olhava. Após algum tempo ele quebrou o silêncio.

    Com uma voz de ‘poderoso chefão’ e um bigode igual do Marlon Brando. Não posso dizer que ele não era charmoso , assim, de perto.

    —Fez boa viagem, detetive?

    —Ótima. Adoraria outras.

    Só não consegui rir. Levei um tapa do segurança.

    Olhei-o com raiva.

    Gente bruta.

    —Olha menino. Eu sei que você comeu minha mulher.

    Tentei negar, mas foi em vão. Ele tinha as fotos minha com a venerável esposa no sofá do escritório. Reagi imediatamente dizendo que aquilo era uma invasão de privacidade. Pra quem não sabe eu estudei direito, só não tenho OB. Provinha difícil , a última que tentei subornar o fiscal acabei na delegacia.

    Mas voltemos ao que interessa.

    Apanhei mais um pouquinho e voltamos ao bate-papo amistoso.

    —Olha senhor, me perdoe , sabe como é, a carne é fraca.

    Ele levantou a mão e levei mais um tabefe.

    —Não quero te ouvir. Isso pra mim é honra e você feriu minha honra. Assim, tens uma dívida comigo que irei cobrar posteriormente. Agora no momento você aguardará quando a ordem chegar. Neste exato momento, entra a esposa. Estava com um dos olhos roxos. Tadinha. Não aguentei e gritei:

    —Você bate em mulher, seu, seu....

    —Fique tranquilo. Não bato em mulher; minha mãe é quem bate; ou você acha que eu entraria numa maria da penha por esse tróço aqui.

    No mesmo instante entrou mamãe, não a minha, mas a dele. Deu mais uns socos na cara da mulher e a arrastou pra fora.

    O homem jogou um jornal não muito velho a minha frente. Não leio jornais. A vida é bela e os jornais falam que o mundo é mau.

    Olhei a foto na capa e voltei a olhar para o homem que já estava de pé rindo.

    Não era possível eu ser tão cagado. Aquele era o Grego, o maior traficante da América Latina.

    Enfim ele queimou o charuto em minhas delicadas mãos; pensei na hora que teria que resistir a uma tortura. Mas eles não tiveram coragem. Saiu e fechou a grande porta; os seguranças me levaram até a Avenida Dundun dos Coqueiros, uma das vias mais intensas, me deixaram lá.

    Pelado.

    No exato momento passava uma ronda. Tive sorte, gritei.

    Eles desceram olhando feio, me deram umas cacetetadas e acabei d na delegacia, onde passei a noite do lado do doutor Cocada assistindo novela. Cocada é delegado, mas é gente boa, até pipoca comemos.

    Sou um cara influência. Pela manhã , mamãe pagou a fiança e me levou.

    Mamãe , nunca falha.

    Noutro dia mandei um e-mail cobrando os serviços  de detetive. Agrediram-me novamente, desta vez dentro do escritório. Tiveram sorte de eu não ter tido tempo de pegar minha ‘catarina’, meu revólver de proteção individual.

    Meses depois o Grego ligou.

    Era o dia de pagar a dívida.

    Mamãe me internou com colapso nervoso. Sou um homem íntegro, mas muito emotivo e frágil.

    Eu sou Tango, Afrânio Tango, detetive particular.

     

     

     

     

     

     

     

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