Como é difícil pegar no teclado com as mãos trêmulas e o coração em frangalhos. Hoje, a madrugada não trouxe apenas a escuridão, mas a notícia que temíamos, mas para a qual nunca estávamos preparados. Partiu Paulo Soares, o Amigão. E com ele, vai-se um pedaço colossal do que foi a nossa geração, a geração dos grandes do jornalismo esportivo.
Suas risadas com Antero Grecco eram tão naturais que faziam da notícia ,algo à parte.
Aos 63 anos, após uma batalha silenciosa e corajosa contra problemas de saúde, nosso Amigão nos deixou. A falência múltipla dos órgãos levou o corpo, mas jamais apagará o legado. Ele, que há poucas semanas escrevia uma carta de despedida tão comovente ao seu companheiro de bancada Antero Greco, agora é quem nos força a virar as páginas do nosso próprio álbum de memórias com um nó na garganta.
Amigão não era apenas um jornalista. Era a definição viva do seu apelido. Era o "amigo do peito", como bem lembrou PVC. Para nós, fãs de carteirinha, ele era o companheiro das madrugadas. A voz que narrava não apenas os gols mais espetaculares da Champions League, mas que dividia conosco sabedoria sobre livros, filmes, música e a vida. Sua bancada com Antero Greco no SportsCenter foi a aula magna do jornalismo esportivo, uma dupla que marcou época e formou a opinião de milhões.
Lembro-me de suas histórias heroicas, de um tempo sem internet, onde a perspicácia e a "se virada" para conseguir informações eram tão importantes quanto o talento para narrar. Ele narrou TUDO. Dos campeonatos europeus mais obscuros às finais mais gloriosas, passando por Olimpíadas e mais de 50 países. Amigão era o mundo do esporte condensado em uma voz única, teimosa no jeito certo, cativante na sua paixão.
Hoje, a ESPN perde sua voz. O jornalismo perde um de seus pilares. E nós, fãs, perdemos um Amigão. Perdemos aquele que era o elo vivo de uma era que não volta mais. A partida de Antero Greco já havia sido um golpe duríssimo. Agora, Amigão se junta a ele no panteão dos imortais.
Estamos, de forma triste e irremediável, perdendo nossa geração dos grandes. E hoje, a dor é da despedida. Obrigado, Amigão. Por todas as madrugadas, por toda a sabedoria, por todo o futebol e por toda a vida que você colocou dentro de uma tela. A narração acabou, mas o seu eco nunca vai calar em nossos corações. Descanse em paz, amigo.
*Por André Guazzelli