Avaré e Cerqueira César anunciaram nas últimas semanas grandes atrações da música sertaneja e religiosa para as famosas Festas do Peão, que serão realizadas nos próximos meses. A realização desses eventos é indispensável para a cultura e economia das cidades, trazendo atenção, público e dinheiro para o município. No entanto, também é alvo de críticas pelo grande investimento e desigual interesse oferecido pelas Prefeituras. Por isso, algumas reflexões podem ser feitas em relação ao propósito e objetivos desses tradicionais eventos.
A realização das Festas do Peão é parte importante da identidade cultural das cidades do interior de São Paulo, e merecem o destaque que recebem em praticamente todas as cidades. Além das já citadas, Arandu, Iaras, Itaí, Taquarituba e tantas outras também realizam o evento anualmente. A aposta é na música sertaneja, o ritmo mais popular do país, e com maior capacidade de atrair público e renda. O objetivo é investir em grandes atrações buscando o retorno em consumo no comércio local, fortalecimento do Turismo e oportunidade de negócios.
Porém a falta de fiscalização mais rígida e interesses particulares podem acabar por fazer com que eventos como esses sejam utilizados como plataforma eleitoral, e há risco de desperdício de dinheiro público. Com o impacto de grandes nomes da música nacional em cidades pequenas, políticos no exercício do mandato se aproveitam para vincular sua imagem com a realização do evento, distribuindo camarotes e ingressos, explorando o clientelismo para garantir poder e apoio. Até mesmo deputados usam verbas parlamentares para financiar as festas, priorizando o lazer pontual de alguns dias ao invés do desenvolvimento estrutural das pequenas e muitas vezes abandonadas cidades do interior.
No caso de Avaré, principal centro regional, a grandeza da festa é proporcional ao investimento e estrutura. O controverso Arenão que foi criticado por anos, pelos gastos milionários e atrasos na obra, agora inaugurado é o grande diferencial da festa avareense. A estrutura realmente oferece ótimas condições para o público e cumpre o objetivo de ser palco de grandes shows. Porém é subutilizado, sendo palco de pouquíssimos ou nenhum evento além da Festa do Peão. A Prefeitura deveria aproveitar o Arenão e buscar parcerias com a iniciativa privada para a realização de eventos que fossem além do Sertanejo, visando colocar Avaré no circuito de grandes shows da música brasileira, o que certamente atrairia público de toda a região.
Muitas vezes, pelo fato de sair dos grandes centros urbanos e comerciais, os principais nomes da música acabam inflacionando o preço. Custa mais caro para as cidades pequenas contratar grandes artistas e o investimento acaba não se pagando. A fiscalização é importante para que não ocorram casos como propina e desvio de verbas na contratação de shows aqui na região, como já ocorreu em cidades pelo Brasil inteiro. Outra crítica frequente é a de que os preços cobrados para barraqueiros se estabelecerem no evento são muito altos. O custo exclui os comerciantes locais e o lucro da festa fica somente com grandes empreendedores de fora da cidade.
Sem dúvida as Festas do Peão não devem deixar de ser realizadas, mas é fundamental que haja responsabilidade financeira e social. O evento deve ter como prioridade, além de oferecer lazer e cultura gratuitos para a população, garantir espaço e apoio às entidades locais e ao comércio das cidades. Além disso, a população não merece somente um fim de semana de diversão, o investimento em eventos deve ser distribuído em mais eventos e explorando outras áreas como Teatro, Cinema, Dança, e outros ritmos, como na Fampop e CerkaRock.
*Por João Nicolau
Colunista do Jornal A Bigorna













