Aliados de Jair Bolsonaro avaliam que os acontecimentos recentes, que desgastaram as pautas da direita, têm potencial para impactar uma eventual candidatura de Tarcísio de Freitas à Presidência e levá-lo a repensar sua entrada na disputa contra Lula.
Eles apontam uma série de derrotas que também foram acumuladas pelo governador de São Paulo desde que passou a abraçar com mais intensidade uma agenda de pré-candidato ao Palácio do Planalto, a começar pela anistia.
No início do mês, Tarcísio encampou a proposta ao desembarcar em Brasília na semana do julgamento de Jair Bolsonaro, liderando articulações com parlamentares em defesa da medida. Em paralelo, adotou um discurso radical no 7 de Setembro, na Avenida Paulista, onde chamou o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, de “tirano”.
A anistia, que chegou a ter a urgência aprovada na noite da quarta-feira passada (17), subiu no telhado após as manifestações que tomaram as capitais do Brasil contra a proposta, associada à chamada PEC da Blindagem. Bolsonaristas passaram a culpar o fato de a votação da anistia ter ocorrido no dia seguinte à aprovação da medida que dificulta a investigação de parlamentares. A agenda de votações, no entanto, chegou a ser discutida com o próprio Tarcísio, que se reuniu com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), de seu partido, e com o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI). O encontro ocorreu no Palácio dos Bandeirantes três dias antes da votação.
Após mergulhar nas articulações, Tarcísio recuou estrategicamente, alegando que os movimentos possíveis em favor da anistia já haviam sido feitos. Nesta quarta-feira (24), o governador afirmou, em entrevista a jornalistas, que a proposta seria o “caminho para a paz dialogada” e quebrou o silêncio sobre a PEC da Blindagem, ao dizer que a medida revela uma “desconexão” dos parlamentares com a sociedade.
Além disso, Tarcísio segue em rota de colisão com Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que já sinalizou intenção de concorrer à Presidência, mesmo que Tarcísio se lance com o apoio de seu pai.
Outro ponto destacado por aliados do ex-presidente são os reflexos que a conversa entre Donald Trump e Lula sobre o tarifaço pode ter sobre o governador. Quando a medida foi anunciada, em julho, Tarcísio entrou em campo e teve uma reunião com o encarregado de negócios dos Estados Unidos, Gabriel Escobar, na tentativa de amenizar o problema. Sem sucesso, acabou recebendo mais críticas de Eduardo Bolsonaro.(Do Globo)