A madrugada da última segunda-feira, 24, não trouxe consigo apenas a escuridão, mas uma tragédia de proporções tão devastadoras que, inicialmente, apagou até mesmo as identidades de suas vítimas. No km 273 da SP-255, em Avaré, a violência de um choque entre um VW Golf e um Bitrem carregado com 45 toneladas de calcário foi tão extrema que confundiu os olhos mais treinados. A Polícia Militar Rodoviária, ao chegar ao local de destroços indescritíveis, acreditou estar diante de dois corpos masculinos. A vida, naqueles fragmentos de metal, havia sido reduzida a um estado que desafiava o reconhecimento.
O relógio marcava 02h09. Enquanto a maioria da cidade dormia, o destino se cruzava em alta velocidade. De acordo com o Centro de Controle Operacional da Artesp, o Golf, que trafegava no sentido interior, sul, invadiu a contramão. Não houve tempo para reação. O impacto contra a massa de aço e calcário do caminhão, que vinha de Birigui, foi instantâneo e catastrófico. Para o motorista do pesado, ferimentos leves. Para os ocupantes do carro, o fim.
Entre ferros retorcidos e vestígios de uma viagem interrompida, socorristas e policiais buscaram em vão por qualquer documento, qualquer papel que contasse a história daquelas vidas. Não havia. A resposta veio de onde a ciência encontra a dignidade: no Instituto Médico Legal (IML). Foi através de exames que os corpos anônimos recuperaram seus nomes, suas histórias, o amor que deixaram para trás.
Eles não eram "duas vítimas" de um boletim de ocorrência. Eles eram Laura Beatriz de Oliveira, de 28 anos, e Alexandre Galçone, de 34. Dois nomes que, horas antes, representavam sonhos, planos e um futuro que foi ceifado naquela faixa de asfalto.
Laura foi velada e sepultada às 8h30. Alexandre, uma hora depois, às 9h30. Ambos no Cemitério Municipal de Avaré, seu descanso final acontecerá lado a lado, numa última e silenciosa homenagem a uma jornada que, na madrugada fatídica, foi interrompida para sempre.
A reportagem expressa seus sentimentos aos familiares e amigos.













