Há um sonho que não se ouve.
É feito de silêncio ativo,
de matéria não nascida,
um murmúrio de estrelas antes da luz.
Nele, as vidas são esparsas:
partículas de poeira cósmica
que, por acaso ou desejo,
se atraem.
Cada uma carrega um fragmento
de uma verdade inabissoluta —
não absoluta, mas sem fundo,
um abismo que é plenitude,
não vazio.
A fé aqui não é certeza.
É o salto sobre o abismo
com os olhos fechados,
confiando que o vácuo
será asa.
O desejo é a força centrípeta,
o magnetismo que aglutina
o esparso.
É a dor da separação
e a ânsia do ímã.
A tristeza é a memória da unidade perdida,
o eco do que era completo
e agora é fragmento buscando fragmento.
É o preço da consciência
no sonho inaudível.
E o amor?
Ah, o amor é o nome do sonho.
É o campo de força que entrelaça
o esparso,
a coragem que olha para o absoluto
e não desfalece,
a fé que se fez carne no desejo,
a tristeza que se transmutou em vínculo.
Amor é a vida audível
do sonho inaudível.
A palavra pronunciada
no centro do silêncio,
onde todas as vidas esparsas
— por um instante, só um instante —
se reconhecem como uma só
e verdadeira.
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André Guazzelli
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