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    “No fim de maio chegaremos  400 mil mortes", diz Drauzio Varella

    1986 Jornal A Bigorna 30/03/2021 23:20:00

    “Meu sentimento hoje é de revolta”, diz angustiado o médico Drauzio Varella, ao falar do campo arrasado que é a pandemia no Brasil. Depois de ver na última semana o país firmar posição no topo da curva de casos e baixas de vidas por covid-19 no mundo, o oncologista salienta que evitar mortes agora exige esforços que superam a capacidade hospitalar nacional e, no curto prazo, mesmo os de vacinação.

    O oncologista frisa que a situação é de caos e não está mais circunscrita à covid-19. “Nossos hospitais entraram em colapso, todos eles, no país inteiro. E esse colapso não atinge só as pessoas com covid, mas também as que têm outras doenças”, afirma.

    O médico cita a situação no Hospital das Clínicas de São Paulo, um dos maiores centros médicos do país para cirurgias, destinado a tratamento de casos graves. A média de pedidos de internação ao longo de sete dias até quinta-feira passada, lembra ele, era de 364 por dia, dos quais 110 de pacientes graves não covid e 254 em estágio agudo da doença provocada pelo coronavírus.

    Em tom de desabafo, lamenta que muitos ainda só tomem essa consciência quando perdem entes próximos ou tentam em vão vaga em UTIs nas unidades públicas, onde pessoas já experimentam a agonia de despertar da sedação intubadas por falta de anestésicos.

    “As pessoas não têm noção do que seja uma Unidade de Terapia Intensiva lotada, as equipes sem tempo, precisando reanimar um paciente, enquanto outro chora com dor”, continua o especialista, para quem a única saída agora é convencer a população de que esse combate está nas mãos de cada cidadão. Segundo Drauzio, nem mesmo o recente reposicionamento do governo em relação às vacinas traria resposta imediata.

    “Se conseguíssemos vacinar todos os brasileiros no fim de semana, o que ia acontecer com a mortalidade? Nada, absolutamente nada, porque o número de mortes conta a história da epidemia do passado. E nós teríamos pelo menos no mês de abril o mesmo número de óbitos, como se não houvéssemos vacinado. Agora, você imagina com essa imunização incipiente, a conta-gotas...”, comenta o médico.

    O médico faz sua parte para informar ao máximo sobre a doença e os riscos. Mas argumenta que nem ele nem colegas médicos ou cientistas podem alterar a realidade sem que lideranças do país mudem as mensagens e o curso das políticas de enfrentamento à pandemia adotadas desde março de 2020.

    Para ele, a crise sanitária chegou a tal ponto de desgoverno que só uma grande mobilização em torno do isolamento social pode impedir que o país protagonize muito em breve a maior das catástrofes entre as nações atingidas. E para quem ficou assombrado ao ver o Brasil cruzar a barreira de 300 mil registros oficiais de óbitos na semana passada, Drauzio resigna-se por não ter perspectivas mais otimistas.(Do Valor)

     

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