
Parecia um sonho, mas não era. Quando finalmente consegui acordar e ter noção do ocorrido foi que notei que a casa estava em chamas. A fumaça estava me deixando zonzo, e apoiando-me na mesa consegui me levantar. A primeira coisa que fiz foi olhar o computador do jornalista, que já pegava fogo. A CPU havia sumido, e eu tinha que sair dali enquanto tivesse tempo.
Alcancei a porta, mas ela estava emperrada, desta maneira tive que sair pela própria janela que havia entrado. Ouvi as sirenes dos bombeiros, todo chamuscado do borrão de incêndio, alcancei uma avenida e peguei o primeiro táxi que tive oportunidade.
Dois dias depois.
Depois de recuperado do susto e colocado os pingos “is”, fui fazendo um mapa do crime, desde o dia em que tudo começou, só aí me dei conta que não estava atrás de um mero assassino casual, mas, sim, que, possivelmente estivesse remexendo nas quinquilharias de uma quadrilha.
Bem posteriormente à aposentadoria, voltei a fumar, tamanho era minha frustração e incerteza.
O jornal posterior deu a notícia da morte do jornalista, lamentando o fato, e dizendo que, por ser velha a casa, não havia como saber o motivo do incêndio. Lendo isso, lembrei-me do canalha que me golpeou pelas costas. Além de ter assassinado o Drummond ele ficou à minha espreita, pois deveria saber que eu iria à casa do jornalista, assim que não localizasse a matéria do padre.
Tudo muito óbvio, agora. O celular roubado deu a pista dos meus passos, e, pior, eles estavam me seguindo.
Passei mais duas noites em campana, mas em vão. Só o que consegui foram duas ressacas nos dias seguintes.
Precisava pensar. Ou melhor, carecia de ajuda, pois sozinho seria uma presa fácil, e não chegaria a lugar algum. Por volta de 2 da tarde, a campainha tocou. Era o Correio. Meu coração quase soltara pela boca, peguei, sem nem sequer agradecer o carteiro e fui logo rasgando um envelope azul-amarelo.
Era apenas uma carta, em inglês. Fui ao computador e digitei palavra por palavra no tradutor:
Prezado:
O disco rígido estava por demais corrompido, no entanto, consegui obter valiosas informações.
Entretanto, quero lhe adiantar que ao ler esta carta, a destrua no mesmo momento.
Você está tentando descobrir, o quase abominável.
Trata-se de uma seita criada por um grupo americano no século XVIII, que à princípio matavam negros. Com o tempo e o passar dos anos, ela se tornou mais forte, com a venda de escravos e mulheres, e se expandiu para outros continentes.
A Casa Mestre como a chamam fica nos Estados Unidos, mas ninguém sabe onde. Depois os membros mais novos, que era apresentados pelos mais velhos resolveram expandir os negócios para tornar tudo mais lucrativo. Agora existem uma Casa no Brasil, África e na Ásia.
Não posso lhe precisar os locais, contudo, pelo que estudei, você corre grande perigo de vida, pois está atrás da Casa 2, no Brasil, casualmente. Eles, acredito, ainda não lhe mataram porque você ainda não é um risco para eles. Juízes, padres, Cardeais, presidentes e, principalmente em 1.978 eles assassinaram o Papa João Paulo I, quando este descobriu, que a Seita era a maior acionista do Banco do Vaticano, e o Papa iria levar tudo às barras da Justiça Italiana, entretanto, e estranhamente ele amanheceu e morto, com apenas um mês de pontificado.
Estou destruindo as provas que me mandou, e recomendo que você deixe isso de lado e vá viver sua vida. Ou talvez tenha a coragem de tentar destruir um grupo bilionário sozinho.
Atenciosamente T.
Ao terminar de ler a carta senti fortes cólicas e corri ao banheiro. Meu Deus, onde eu estava me metendo.
À noite precisei de dois comprimidos ansiolíticos para dormir, mesmo assim foi uma noite insone e atribulada, onde sonhava que alguma coisa me perseguia. Acordei suado. Eram 10 da manhã. Havia dormido 12 horas seguidas.
Almocei ao lado de minha casa, sem tirar da cabeça o que poderia fazer. Toda àquela descoberta deixara-me estupefato. Foi um mero funcionário público, no entanto, aquele caso instigara-me o espírito. Não sei o que, nem por que, só sabia que deveria ir até onde conseguisse chegar. Tinha duas opções, ou melhor, minhas últimas chances de ter algo para poder trabalhar em cima do caso.
***
O telefone tocava estridentemente na casa do Chefe. Ele odiava ser incomodado quando estava almoçando. Comer para ela era uma coisa divina.
Quando o negro chegou ao seu lado com o telefone, ele olhou feio, no entanto, seu serviçal lhe disse que era melhor atender.
Bruscamente ele tomou o aparelho.
“Alô. Quem é? ”
Ouviu por menos de dois minutos o recado e ficou pálido, respondendo em inglês.
“Sim, sim senhor. Pode deixar. Me desculpe por demorar em atendê-lo. ”
Entregou o aparelho ao serviçal e disse:
“Ligue para o chefe do Hospital. Rápido. Precisamos de um rim urgentemente e me passe a ligação. O órgão tem de estar no próximo voo para Paris ainda hoje. ”
O serviçal olhou o Chefe dizendo que naquela hora do dia seria quase impossível encontrar algum mendigo, sem ser visto ou notado.
Aquilo irritou o Chefe que saiu com a cadeira e ligou ele próprio para o Hospital.
“Armínio. Sou eu. Escute atentamente o que vou lhe dizer. Precisamos enviar um rim. O paciente é pai de um dos chefes da Casa na África. Não sei como você fará, mas terá que fazer. E tem outra coisa, o serviço é pra já. Tem um jato particular no aeroporto à espera do produto. Ande. Não perca tempo. ”