
Por Assis Châteaubriant - Interessantíssimo o artigo do sociólogo Eugênio Bucci, no qual ele explana que a imprensa, muitas vezes é considerada a culpada quando alguma coisa de um governo não dá certo. A imprensa não administra, ela apenas noticia.
Diz Bucci: “Embora seja temerária qualquer previsão para o ano que vem, de uma coisa a gente pode ter certeza desde já: o chavão de que as empresas jornalísticas manipulam e jogam sujo vai atropelar os olhos e os ouvidos dos pobres eleitores. Repórteres levarão a culpa pelos reveses dos partidos. Demagogos que não leem coisa alguma, nem mesmo os títulos de alto de página, insultarão as redações como se fossem luminares do “media criticism”.
Os bombardeios que políticos movem contra a imprensa, porém, não são provocados pelos erros, e sim pelos acertos. Quanto mais acerta, mais a imprensa apanha dos poderosos, diz o sociólogo, e completa: “Os ataques vêm porque os órgãos jornalísticos cumprem seu papel e não traem seu público. Apesar dos desvios técnicos e éticos, que não são poucos nem irrelevantes, o trabalho dos jornalistas profissionais brasileiros tem sido uma das pouquíssimas reservas de verdade factual com que podemos contar”.
Bucci elucida ainda mais a atividade política dos militantes (a maioria – sempre – cega aos fatos e acontecimentos) e completa, logo, qualquer esforço para elucidar os fatos, de modo impessoal e apartidário, tende a ser recebido como um complô imundo para desmoralizar os políticos sacrossantos, pois a imprensa, de acordo com essa alucinação febril, não é nada além de instrumento de algum complô. O fanático menciona o nome de um ou outro jornal e proclama, com ares de profeta: “Você pode até não ver que conluio se esconde atrás das notícias, mas que algum complô existe, ah, pode apostar que existe”.
A psicologia das massas, explica o sociólogo, perde conexão com os fatos. Animadas por líderes irresponsáveis, as multidões creem piamente em irrealidades fantasmagóricas invisíveis. Nossa imprensa se reduz mesmo a isso que dizem seus inimigos? Será que ela não passa de um amontoado de estratagemas mal costurados para derrubar esses e aqueles? As evidências, todas elas, respondem que não e aqui em Avaré, isso não é diferente. O jornalismo não é o causador de má-administrações, prisões de políticos ou tragédia nacional.
Mal ou bem, o jornalismo fiscaliza o exercício do poder municipal, estadual ou federal.
Chatô é escritor.