• Apoiar Bolsonaro em 2026 é “burrice” e que teme ditadura com Lula

    1043 Jornal A Bigorna 13/03/2023 04:10:00

    O término de seu mandato como deputada estadual é também o fim de um ciclo que vai da queda de Dilma Rousseff à ascensão e derrota de Jair Bolsonaro (PL), com o —para ela doloroso— retorno do PT ao poder, com Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

    Autora, ao lado de Hélio Bicudo e Miguel Reale Júnior, do pedido de afastamento da ex-presidente, a advogada e professora de direito da USP chegou à Assembleia em 2019 com impressionantes 2 milhões de votos, a maior votação de um parlamentar na história do país, incluindo federais.

    Reprovada pelos apoiadores de Dilma, Janaina logo ganhou também a rejeição de bolsonaristas, inconformados com suas críticas pontuais ao então presidente. Irredutível sobre a decisão de concorrer ao Senado em 2022, ficou distante da vaga, com pouco mais de 447 mil votos.

    Ela afirma que Bolsonaro e aliados fizeram de tudo para atrapalhar sua candidatura, com emissários tentando convencê-la a desistir em favor do ex-astronauta Marcos Pontes (PL), por fim o eleito. "Se tivesse concorrido à reeleição ou a [deputada] federal, eu teria conseguido, mas não me arrependo."

    Janaina considera que desagradar diferentes lados é a prova de que, como parlamentar, conservou o espírito de independência, sem corromper suas ideias ou seguir cartilhas cegamente. "Eu não obedeço a ninguém", diz ela, que detesta ser chamada de bolsonarista. "Sempre fiz contrapontos."

    Antipetista convicta e conservadora em temas como aborto e drogas, a paulistana de 48 anos tomou gosto pela política e não descarta voltar a concorrer. Rejeita prontamente a ideia de tentar a Prefeitura de São Paulo, mas nem por isso se fecha a possibilidades, como uma cadeira de vereadora.

    Tampouco se decide sobre continuar filiada ao PRTB, depois de ter passado pelo PSL, legenda que também abrigou Bolsonaro. A professora se declara uma democrata avessa à obrigatoriedade de vinculação partidária para quem quer concorrer e defende candidaturas avulsas.

    Desde o dia em que as urnas sacramentaram seu fim de ciclo, os pensamentos de Janaina se voltaram para o retorno às salas de aula da Faculdade do Largo de São Francisco, onde leciona desde 2003 e se vê, há tempos, como voz isolada em um ambiente coalhado de progressistas.

    Sua reapresentação ao trabalho, no entanto, virou uma crise.

    No fim de janeiro, estranhou ao saber que disciplinas que lecionava antes de virar deputada não estavam reservadas para ela ao fim de sua licença não remunerada. A universidade diz que seguiu os trâmites normais e que ela reassumirá o posto.

    O processo foi ainda atravessado por um levante estudantil. O Centro Acadêmico XI de Agosto lançou um manifesto relatando "perturbação" com a volta da docente, chamada de "principal fiadora jurídica da extrema direita". Disse que ela deu "uma contribuição indecente para o país" com o impeachment.

    Rebatida por outra parte dos estudantes e por professores, que veem intolerância e violação à liberdade de cátedra, a manifestação pediu também que a universidade mandasse a parlamentar apresentar seu cartão de vacinação contra a Covid-19, uma vez que ela é contrária à imunização obrigatória.

    Aí se deu uma coincidência: uma lei de autoria da própria deputada e de colegas bolsonaristas, recém-sancionada pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), proíbe cobrar o comprovante. Os alunos reivindicaram que, mesmo assim, a faculdade exigisse o documento. Janaina já disse que tomou uma dose da Pfizer, mas, após "uma reação alérgica muito forte", foi orientada a não receber as demais.

    O retorno à vida docente, sua única certeza após se despedir da Assembleia, deverá ser gradual, começando por substituições de professores em licença. "Nunca falei de política em sala de aula, diferentemente do pessoal da esquerda. Nem de eleição, partido, ideologia, nada."

    Além da queda da obrigatoriedade de exibir a carteira vacinal, Janaina cita como destaque do mandato sua lei que dá à grávida o direito de optar pela cesárea no SUS. Pela iniciativa, ganhou de adversários rótulos como os de inimiga do parto normal e porta-voz do lobby da classe médica.

    "A deputada contribuiu muito com o Parlamento paulista", diz o presidente da Assembleia, Carlão Pignatari (PSDB), para quem a bagagem dela no direito ajudou na elaboração de leis e na fiscalização do governo. Até rivais, nos bastidores, reconhecem qualidades e elogiam a assiduidade dela no plenário.

    Para Carlão, a colega foi "um exemplo" com o hábito de estudar os projetos, além de "ter sido sempre muito criteriosa e atenciosa".

    A Janaina de ânimos mais serenados que passou pelo Legislativo ficou longe da imagem celebrizada pelo "discurso da cobra", uma fala exaltada contra o PT feita em 2016 num palanque em frente à USP. O período como deputada até teve um ou outro arroubo de oratória, mas nada comparável ao episódio em que, com os cabelos tremulando enquanto dava rodopios, bradou: "Acabou a República da cobra!".

    Houve, sim, momentos insólitos. Em 2019, ela subiu à tribuna a pedido do então colega de PSL Douglas Garcia para anunciar a homossexualidade do deputado. Em 2020, indignada com a postura de Bolsonaro na pandemia, afirmou que "esse senhor" tinha que "sair da Presidência da República". A relação com a base do ex-presidente, já problemática, afundou de vez.(Da Folha d SP)

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