
A reprovação popular ao trabalho de deputados federais e senadores voltou a subir, mostra pesquisa do Datafolha, que aponta ainda uma elevada opinião na sociedade de que os congressistas atuam mais em prol de seus próprios interesses —78% dos entrevistados.
Em março do ano passado, ainda nas gestões de Arthur Lira (PP-AL) na Câmara e Rodrigo Pacheco (PSD-MG) no Senado—, o Datafolha havia apontado uma melhora na avaliação do Congresso Nacional, com reprovação (23%) e aprovação (22%) praticamente igualadas.
Agora, os números voltaram a piorar, repetindo os do final de 2023: 35% dizem considerar ruim ou péssimo o desempenho do Legislativo, contra 18% de ótimo ou bom.
Foram realizadas 2.004 entrevistas em todo o Brasil, distribuídas em 130 municípios, nos dias 29 e 30 de julho. A margem de erro máxima é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, dentro do nível de confiança de 95%.
Desde o final de junho, o Congresso é um dos alvos preferenciais da campanha comandada por petistas e governistas nas redes sociais com o mote "ricos contra pobres".
Nas peças criadas em grande parte por inteligência artificial, congressistas são descritos como defensores de ricos e de privilégios próprios, em especial após a suspensão do pacote de aumento de impostos decretado pelo governo Lula.
Neste ano, Hugo Motta (Republicanos-PB) assumiu a presidência da Câmara e Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), a do Senado.
O Datafolha também perguntou aos entrevistados se, em sua opinião, um deputado ou senador pensa mais nos seus próprios interesses ou nos interesses da população ao tomar uma decisão.
Para 78%, os congressistas agem mais em benefício próprio do que no da coletividade. Apenas 18% pensam o contrário.
Na pesquisa, 73% dos entrevistados disseram considerar que os congressistas tratam melhor os ricos que os pobres (só 5% disseram ver o contrário).
Tanto em relação à percepção do trabalho geral como na questão sobre interesses próprios versus interesses da sociedade, a avaliação dos congressistas encontram melhores números entre eleitores de Lula e piores entre simpatizantes do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Nos que pretendem votar em Lula em uma eventual candidatura à reeleição do petista no ano que vem, há empate técnico sobre o trabalho de deputados e senadores —28% de ruim e péssimo e 26% de bom e ótimo. Já entre eleitores de Bolsonaro, a rejeição (38%) supera em muito a aprovação (14%).
Congressistas aliados ao ex-presidente tentam há tempos emplacar no Congresso uma anistia aos condenados pelos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023, mas até agora a proposta foi barrada pelo PT e pelo centrão.
A diferença de percepção se mostra também na afirmação de que deputados e senadores agem pensando mais em benefício próprio —71% entre lulistas dizem pensar assim contra 83% dos bolsonaristas.
O Datafolha também mediu a avaliação do Congresso romando como base o grau de conhecimento dos eleitores sobre o tarifaço promovido pelo governo de Donald Trump contra o Brasil.
O cidadão que declarou conhecimento da medida apontou uma rejeição maior ao Congresso.
Ao todo, 48% dos que se declararam bem informados sobre a taxação classificaram como ruim ou péssimo o desempenho de deputados e senadores. Entre os que disseram não ter tomado conhecimento, a rejeição foi de apenas 20%.
As pesquisas do Datafolha sobre o trabalho do Congresso realizadas desde os anos 1990 mostram uma histórica rejeição popular ao trabalho de deputados e senadores.
A soma dos que declararam considerar ótimo ou bom o desempenho nunca superou 25% desde 1993 —esse índice foi alcançado no final de 2010, último ano do segundo mandato de Lula. A única pesquisa que registrou aprovação numericamente à frente da rejeição (24% a 22%) foi no início de 2003, primeiro ano do primeiro mandato de Lula.
O fundo do poço até agora na avaliação popular do Legislativo foi registrado no final de novembro de 2017, com 60% de reprovação e apenas 5% de aprovação. No mês anterior, a Câmara havia barrado pela segunda vez o andamento de denúncia e consequente afastamento do então presidente Michel Temer (MDB).(Da Folha de SP)