• Morte de crianças pequenas por Covid é o triplo da causada por 14 doenças em dez anos

    1750 Jornal A Bigorna 26/07/2022 08:10:00

    Em dois anos, as mortes de crianças até cinco anos por Covid-19 foram mais do que o triplo das causadas, em uma década, por outras 14 doenças que podem ter mortalidade evitada por vacinação e outras ações de saúde.

    Em 2020 e 2021, 1.508 crianças morreram por Covid. Já as doenças que compõem a Lista Brasileira de Mortes Evitáveis somaram 44 óbitos nesse período. Entre 2012 e 2021, totalizaram 498 mortes.

    A lista, formulada por especialistas de diversas áreas ligadas à saúde infantil e coordenada pelo Ministério da Saúde, reúne as seguintes doenças: neurotuberculose, tuberculose miliar, tétano neonatal, tétano, difteria, coqueluche, poliomielite, sarampo, rubéola, hepatite B, caxumba, rubéola congênita, hepatite viral congênita e meningite meningocócica do tipo B.

    A relação inclui doenças que podem matar, mas que são passíveis de prevenção por meio de intervenções do SUS, como vacinação, pré-natal adequado e acesso à atenção básica à saúde, cuidados no parto e pós-nascimento.

    A análise é do Observatório de Saúde na Infância - Observa Infância, da Fiocruz/Unifase, a partir de dados do SIM (Sistema de Informação sobre Mortalidade), do Ministério da Saúde.

    No último dia 13, a Anvisa liberou o uso emergencial da vacina Coronavac, do Instituto Butantan, para as crianças de três a cinco anos. Porém, as que têm entre seis meses e dois anos continuam descobertas e possuem o dobro de risco de morte em relação às primeiras.

    Em dois anos, 539 crianças morreram por Covid nessa faixa etária. Para efeito de comparação, entre 2012 e 2021, as outras 14 doenças com mortes evitáveis por vacina somaram 144 óbitos.

     

     

    Segundo Cristiano Boccolini, pesquisador do Observa Infância, se o ritmo de mortes por Covid se mantiver no mesmo nível observado nos últimos dois anos, nos próximos três meses o país pode perder mais 76 crianças nessa faixa etária.

    "Esse é o preço que o Brasil pode pagar enquanto espera a aprovação da vacinação para esse grupo. No cenário mais otimista, poderíamos ter a vacina nos braços dos nossos bebês daqui a três meses", diz ele.

    Ao menos 13 países já vacinam crianças menores de cinco anos contra a Covid-19, entre eles Estados Unidos e Israel, que aprovaram a aplicação de doses a partir dos seis meses de idade.

    No Brasil, até o momento, nenhuma farmacêutica solicitou autorização à Anvisa para uso da vacina a partir dos seis meses. Tanto a Pfizer quanto a Zodiac, representante da Moderna no país, dizem que devem fazer o pedido em breve, mas não definiram datas.

    A vacinação contra a Covid já liberada para crianças entre três e cinco anos também encontra entraves. Há um público elegível de 5,6 milhões de pessoas —o que significa 11,2 milhões de doses, já que a Coronavac demanda duas aplicações.

    Mas os municípios só dispõem de cerca de 1,5 milhão de doses e estão criando estratégias distintas para lidar com a escassez. São Paulo, por exemplo, começou a vacinar crianças de 3 e 4 anos com comorbidades e deficiências e as indígenas.

    O Ministério da Saúde informou que o governo federal planeja remanejar as doses de Coronavac entre os estados. Já o governo de São Paulo solicitou ao Instituto Butantan a importação de 8.000 litros de IFA (insumo farmacêutico ativo) para a produção de 10 milhões de doses da vacina.

    Em meio a isso, o país também enfrenta resistência dos pais em imunizar seus filhos contra a Covid.

    "O que a gente mais vê são mães preocupadas com a meningite, por exemplo, mas a Covid mata muito mais e não há essa sensibilização toda", diz Boccolini. Entre 2012 e 2021, 29 crianças morreram por meningite B no país.(Da Folha de SP)

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