• O favor de Trump a Lula

    84 Jornal A Bigorna 11/07/2025 08:30:00

    O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, prestou um enorme favor ao presidente Lula da Silva com a ameaça de impor tarifas comerciais ao Brasil para obrigar o País a se render a suas absurdas exigências, entre as quais livrar Jair Bolsonaro pela tentativa de golpe de Estado. Deu ao demiurgo petista tudo o que um populista como ele mais deseja num momento de impopularidade: um inimigo para brigar. De preferência, um inimigo que faça ameaças de tal ordem que possam, se efetivadas, causar prejuízos reais à economia, abalar setores e negócios estratégicos como o agronegócio e o aço, encarecer a vida dos brasileiros e, de quebra, enfraquecer as forças políticas aliadas de Trump no Brasil.

    Ainda é cedo para decretar que o tiro do presidente americano saiu pela culatra, mas é evidente que boa parte da conta de seu eventual tarifaço recairá sobre os ombros de quem supostamente moveu mundos e fundos para a ação de Trump contra o Brasil. Nesse pacote, inclui-se, em primeiro lugar, o clã Bolsonaro. Como se sabe, o ex-presidente e seus associados liberticidas viram na volta de Trump à Casa Branca uma boia de salvação para si e para o bolsonarismo. Alguns aliados, mais cautelosos, trataram Trump como símbolo do nacionalismo triunfante que sonhavam em aplicar no Brasil. Outros, mais delirantes, chegaram a clamar por uma invasão americana. Entre um passeio e outro na Disneylândia, Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente, se apresenta como exilado político nos Estados Unidos e fez lobby na Casa Branca para que Trump liderasse a campanha bolsonarista contra o Supremo Tribunal Federal (STF), instituição tida como algoz de seu pai e de aliados golpistas.

    O efeito prático está aí: o risco de o nacionalismo patriótico do bolsonarismo se converter numa oposição aos interesses do Brasil. Pode ser de pouca serventia a tentativa dos Bolsonaros e dos principais nomes da direita brasileira – como o governador Tarcísio de Freitas, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, e outros de menor musculatura política – de atribuírem culpa a Lula, ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, ao Itamaraty ou ao PT. Assim como ocorreu em países como Canadá, Austrália, México e, em certa medida, Alemanha, a interferência política de Trump em assuntos nacionais produziu resultados contrários: desmoralizou o americano e enfraqueceu o potencial eleitoral de seus aliados.

    Para um governo e um presidente com imagem combalida pela incompetência e pela inépcia, nada mais útil do que ter um inimigo externo e assim, em tese, tentar “unir” o País contra os prejuízos da medida – incluindo o setor produtivo, que majoritariamente enxerga o lulopetismo com desconfiança. Bastou a publicação da carta de Trump para que Lula, seus exegetas no Palácio do Planalto e os habituais porta-vozes do lulopetismo nas redes decretassem uma espécie de estado de defesa da soberania nacional. E assim o enredo está urdido: um governo ruim, um presidente perdendo aliados e uma base desanimada se veem ávidos para galvanizar apoios Brasil afora contra a ameaça trumpista. A essa agenda se soma a campanha do “nós contra eles”, deflagrada recentemente após a crise do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), e assim se completa a receita populista do lulopetismo com um só objetivo: a reeleição de Lula.

    Mas que Lula e a companheirada não se enganem. Apesar do favor político oferecido por Trump, o tarifaço, se vier, resultará em prejuízos econômicos consideráveis – ao agronegócio, à indústria e aos consumidores –, e com o tempo é provável que parte de tais efeitos seja debitada também da conta de Lula, sobretudo porque este não atuou para reduzir as tensões com os Estados Unidos de Trump. Recorde-se que Lula, ao contrário, investiu na aproximação com a China, advogou pela substituição do dólar como moeda do comércio global e fez campanha contra companhias americanas de internet. Por ora, o jogo favorece Lula, mas a eleição ainda está muito longe.(Do Estado de SP)

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