
A história das bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki, no Japão, já é amplamente conhecida. Produções como o filme “Hiroshima” retratam com precisão o trabalho realizado por cientistas e engenheiros norte-americanos no âmbito do Projeto Manhattan, que resultou na criação de uma arma devastadora e teve papel determinante no desfecho da Segunda Guerra Mundial.
Estima-se que cerca de 200 mil pessoas tenham perdido a vida em decorrência desses ataques nucleares. Apesar de esse episódio representar um dos momentos mais trágicos da história moderna, ainda existem aspectos pouco esclarecidos sobre os bombardeios e suas consequências. A seguir, são apresentados quatro pontos que permanecem envoltos em incertezas e debates históricos.
É possível que a intervenção soviética tenha sido mais decisiva do que as bombas para o fim do conflito.
A narrativa predominante afirma que os bombardeios atômicos foram o fator que levou o Japão à rendição, encerrando a Segunda Guerra Mundial. Hiroshima foi atingida em 6 de agosto de 1945, e Nagasaki três dias depois, em 9 de agosto. A rendição japonesa foi anunciada em 15 de agosto.
No entanto, um fator muitas vezes subestimado é a declaração de guerra da União Soviética ao Japão, feita em 8 de agosto. Alguns estudiosos argumentam que essa ação pode ter sido o verdadeiro catalisador da rendição japonesa.
Em 1941, Japão e União Soviética assinaram um pacto de neutralidade, que beneficiava ambos os países. Com isso, os soviéticos se mantinham afastados do conflito no Pacífico, permitindo que os Estados Unidos assumissem protagonismo na região.
Contudo, o líder soviético Josef Stalin teria decidido romper esse acordo e intervir militarmente contra o Japão, o que gerou um movimento significativo de tropas soviéticas rumo a territórios japoneses. Essa ofensiva pode ter sido o fator determinante que levou o governo japonês a optar pela rendição.
A guerra poderia ter acabado sem o uso das bombas atômicas.
As armas nucleares estão entre as invenções mais destrutivas da história da humanidade, capazes de dizimar populações inteiras e arrasar cidades. Embora a visão tradicional atribua às bombas atômicas a responsabilidade direta pela rendição japonesa, há teorias que questionam essa versão.
Alguns historiadores afirmam que o Japão já estava em processo de rendição antes mesmo dos ataques nucleares. Uma das principais evidências nesse sentido é uma carta enviada pelo imperador Hirohito ao líder soviético Josef Stalin, solicitando que ele atuasse como mediador nas negociações de paz com os Estados Unidos.
Essa correspondência foi recebida por Stalin antes da realização da Conferência de Potsdam, que ocorreu entre 17 de julho e 2 de agosto de 1945, com a presença dos líderes das principais potências aliadas. O ataque a Hiroshima ocorreu poucos dias depois, em 6 de agosto, o que sugere que o Japão já demonstrava intenção de negociar sua rendição de forma diplomática, sem necessidade de um ataque nuclear.
Os Estados Unidos tentaram alertar a população japonesa, mas os resultados são incertos.
Antes de lançar as bombas sobre Hiroshima e Nagasaki, os Estados Unidos distribuíram panfletos sobre o território japonês com o objetivo de alertar os civis sobre os riscos iminentes e, ao mesmo tempo, pressionar o governo japonês a se render.
Esses panfletos, que continham imagens impactantes e mensagens intimidadoras demonstrando o poderio militar norte-americano, foram lançados em pelo menos 33 cidades do Japão. Além de alertas, eles também listavam possíveis locais que poderiam ser alvos de ataques futuros.
No entanto, permanece a dúvida sobre a real eficácia dessa estratégia. Nem Hiroshima nem Nagasaki estavam incluídas na lista de cidades mencionadas nos panfletos, o que levanta a hipótese de que muitas pessoas não tenham levado a ameaça a sério ou sequer imaginado que suas cidades estivessem em risco. Em vez de promoverem uma evacuação organizada, os panfletos podem ter contribuído para aumentar o caos e o pânico generalizado entre a população.
A produção de bombas atômicas não parou após Hiroshima e Nagasaki.
Embora o impacto das primeiras bombas lançadas tenha sido devastador, relatos sugerem que os cientistas envolvidos no Projeto Manhattan podem ter subestimado o poder real dessas armas. Em um artigo publicado em 1946 no Bulletin of the Atomic Scientists, os autores afirmavam: “é duvidoso que as primeiras bombas disponíveis, de eficiência comparativamente baixa e tamanho pequeno, sejam suficientes para quebrar a vontade ou capacidade do Japão de resistir”.
Isso indica que os Estados Unidos estavam prontos para prosseguir com os ataques nucleares, caso o Japão não se rendesse. De fato, havia planos concretos para a produção e uso de pelo menos mais sete bombas atômicas, que seriam lançadas até o final de outubro de 1945.
Apesar de o fim da Segunda Guerra Mundial marcar o encerramento de um dos conflitos mais brutais da história, os acontecimentos em torno dos bombardeios de Hiroshima e Nagasaki ainda suscitam questionamentos e discussões profundas, revelando que nem tudo está completamente esclarecido sobre esse capítulo sombrio da humanidade.
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